"O jornalismo no Brasil é para a arte bom e mal. No estado atual da nossa cultura, é o jornal que se lê mais, e não o livro. Quem quiser, pois, fazer alguma coisa pela arte - extensivamente considerada - há de ter um jornal em que escrever. Nem a revista nem o folheto preenchem a função do jornal, que é o que todos lêem. O poeta ou o prosador que quiser ver sua obra passar de coisa escrita a coisa impressa tem que se submeter ao jornal. O jornal é inevitável, precisamos sofrê-lo. É ele que abrirá caminho ao livro, ou melhor é ele que tem aberto cominho ao livro. Entretanto, para quem vive disto, de escrever para a imprensa, não há nada pior, como meio esterilizante e dispersivo. Esterilizante, porque o trabalho au jour le jour esgota as forças desorientadas e exaure o tempo desmetodisado; dispersivo, porque não admite a reflexão, a concentração da idéia, o apuro e o esmero da forma, que é a ambição de todo artista. Assim, o jornalismo é um fator bom, porque é só por ele que p aartista se pode manifestar, e é um fator mal porque, como Saturno, devora a vida de seus próprios filhos. Que belo não seria haver aqui no Rio um jornal em que um grupo de artistas mostrasse que é ainda pelo jornalismo que, entre nós, poderia um esteta viver e trabalhar, iluminando almas e arejando espíritos. É o meu sonho em breve realizável".
Fonte: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Garnier, 1904.
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