"Eu atuei pouco em redação, meu trabalho jornalístico foi mais em assessorias. Meu primeiro romance foi publicado em 1980. Depois vieram contos, agora publiquei um livro infanto-juvenil. Eu escrevi pouco quando trabalhava em redação de jornal, mas não acho que é o tempo físico que nos permite ou não escrever. É mais um espaço mental. Eu acho que dá sim pra conciliar jornalismo e literatura, mas claro que depende muito do seu envolvimento com uma coisa e outra. Quando você não está tão imersa em notícias, claro, é melhor para desenvolver a literatura. Mas não acho que sejam áreas inconciliáveis não. Mesmo porque, a literatura é uma espécie de mosca azul: se você foi picado por ela, não tem mais saída. Em qualquer situação, dá-se um jeito de escrever, de colocar aquela inquietação no papel. É mais forte que a gente. E eu, no momento, estou mais envolvida do que nunca com a literatura, com romance já na editora para sair até o fim do ano... Para um jornalista que quer ser escritor, é preciso ir em frente. Tentar conciliar as duas coisas, porque não é impossível. E só fazendo os dois é que cada um vai saber se precisa deixar uma área, quando o fazer. E existem formas de conciliar as duas coisas profissionalmente também, no jornalismo literário, por exemplo...O jornalismo ajuda muito na apuração. O escritor também tem que saber apurar. A literatura exige uma observação profunda, de detalhes, de gestos. E a própria pauta pode ajudar muito o escritor a estruturar personagens, por exemplo. O ato de escrever muito e diariamente também coloca a pessoa mais desenvolta e íntima com as palavras. Isso pode fazer o estilo dela, como escritora, melhorar. Agora a parte ruim do jornalismo é a pressão. O escritor não pode, de jeito nenhum, trabalhar sob pressão".
Fonte: ANDRADE, Marcela Heitor. Jornalistas podem ser escritores?: 21 entrevistas brasilienses. Monografia apresentada à Faculdade de Comunicação da UNb, como requisito para a graduação em Comunicação Social. Brasilia: UNb, 2008.
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