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Música
Patativa do Assaré

Tudo é muito bom o verso e a viola. Mas o verso é mais importante. Você já leu meu livro Cante lá que eu canto cá? Ninguém faz aquilo só com a viola”.

Fonte: O Globo, 15/07/2000 – Letícia Lins

Antônio Gonçalves da Silva nasceu em 05/03/1909, em Assaré,  CE. Poeta popular, compositor, cantor e repentista. Trata-se de uma das principais figuras da música nordestina do século XX. De origem pobre e arrimo de família, foi alfabetizado aos 12 anos, e logo começou a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Aos 20 anos recebeu o pseudônimo de Patativa, devido a sua poesia ser comparável à beleza do canto dessa ave. Participava constantemente de um programa de radio na cidade do Crato declamando seus poemas e, numa destas ocasiões é ouvido por José Arraes de Alencar (futuro governador de Pernambuco) que, convencido de seu potencial, lhe dá o apoio e o incentivo para a publicação de seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, de 1956. O livro teve uma nova edição com acréscimos em 1967, passando a se chamar Cantos do Patativa. Em 1970 é lançada nova coletânea de poemas, Patativa do Assaré: novos poemas comentados, e em 1978 foi lançado Cante lá que eu canto cá. Mais dois outros dois livros, Ispinho e Fulô e Aqui tem coisa, foram lançados respectivamente nos anos de 1988 e 1994. Obteve popularidade a nível nacional, possuindo diversas premiações, títulos e homenagens (tendo sido nomeado por cinco vezes Doutor Honoris Causa). No entanto, afirmava nunca ter buscado a fama, bem como nunca ter tido a intenção de fazer profissão de seus versos. Patativa nunca deixou de ser agricultor e de morar na mesma região onde se criou (Cariri) no interior do Ceará. Seu trabalho se distingue pela marcante característica da oralidade. Seus poemas eram feitos e guardados na memória, para depois serem recitados. Daí o impressionante poder de memória de Patativa, capaz de recitar qualquer um de seus poemas, mesmo após os noventa anos de idade. A transcrição de sua obra para os meios gráficos perde boa parte da significação expressa por meios não-verbais (voz, entonação, pausas, ritmo, pigarro e a linguagem corporal através de expressões faciais, gestos) que realçam características expressas somente no ato performático (como ironia, veemência, hesitação, etc.). A complexidade da obra de Patativa é evidente também pela sua capacidade de criar versos tanto nos moldes camonianos (inclusive sonetos na forma clássica), como poesia de rima e métrica populares (por exemplo, a décima e a sextilha nordestina). Ele próprio diferenciava seus versos feitos em linguagem culta daqueles em linguagem do dia-a-dia (denominada por ele de poesia "matuta"). A vida do poeta foi retratada em "Concerto de Ispinho e Fulô", da Cia. do Tijolo, peça que deu a William Guedes o Prêmio Shell de Teatro em 2009 na categoria de melhor música. A mesma companhia também retratou o poeta na peça "Cante Lá que Eu Canto Cá!". Em 1999 o poeta ficou imortalizado ainda em vida na sua cidade com a inauguração do Memorial Patativa do Assaré. ; Faleceu em 8/07/2002.

 

 

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