"Por carência de uma intensa meditação amadurecida, com anterioridade à sua pergunta, permita-me que enuncie, sem ordem, as respostas incompletas que sua solicitação produz em mim? Bem, escrevo porque se põem diante de mim, porque se colocam na minha imaginação, personagens envolvidos em um transe ou possuídos por uma obsessão, ou uma esperança, e me empenho a levá-los até o final, bem, que às vezes não existe. Permita-me 'burocratizar' outra vez: escrevo porque gosto de narrar. Escrevo porque gosto da ocupação de escrever. Escrevo porque me guia uma vontade imensa de construir, por meio da palavra. Escrevo para analisar-me. Escrevo para esclarecer o que me prejudica, o que prejudica à gente como eu. Escrevo para entender e entender-me. Escrevo para que a subjetividade explore as paisagens abertas e as cavernas sombrias das pessoas que o mundo objetivo lhe propõe. Escrevo para confessar e não ser absolvido. Antes, somente em uma ocasião tive desejo espontâneo de atribuir ou deduzir uma finalidade - ou talvez foi a única vez que o entendi. De um conto, En rojo de culpa, disse que ele era moralista; do livro que o contém, Mundo animal, meu primogênito afirmo: 'Procuro colocar o leitor no jogo da literatura evoluída - e agora não me recordo como continua; um momento, sim - para introduzi-lo nos mistérios da existência que, se não lhe proponho, posso suscitar em sua imaginação, e também para chamá-lo a uma meditação intensa mais duradoura que a leitura sobre a perfectibilidade do ser humano".
Fonte: LORENZ, Gunter W. Diálogo com a América Latina. São Paulo: EPU, 1973.
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