“Houve um momento em que eu achava que devia ter um compromisso; hoje não acho mais. Durante a ditadura, nós não podíamos escrever coisas claras no jornal, éramos limitados pela censura, então houve uma explosão de ‘ficção’, para poder falar. Literatura porém não precisa de compromisso. Pode acontecer por acaso, mas é muito difícil. As palavras são usadas pelo escritor como as cores pelo pintor. Às vezes, num quadro com um desenho erótico, o erotismo está mais nas tintas do que no desenho. O que dá peso às palavras é a carga de experiências de vida que passamos. Muitas vezes pensamos que estamos falado de uma coisa nossa, um pensamento nosso, mas aquilo já está prontinho na língua. A língua é toda ideológica, traz elementos prontos, como formas subliminares. O escritor que consegue uma expressão autêntica é aquele que rompe com isso, intervindo na linguagem”.
Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994 |