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Por que escreve?
Moacyr Félix

Não escrevo para procurar o que me falta. Faço isso porque é o meu trabalho, é o trabalho que me realiza como ser humano. A função do intelectual, palavra ampla que contém também o poeta, é indagar a qualidade da vida humana em toda e qualquer situação econômica e política, lutando contra toda e qualquer transformação do homem em pura quantidade, em mero consumidor. Hoje, o que mais conjuga-se é o verbo ‘ter’ e não se presta atenção ao verbo ‘ser’. O resultado é que a riqueza de poucos está aumentado sempre mais, assim como os contrastes sociais; os ricos tornam-se sempre mais ricos e menos numerosos e os pobres cada vez mais numerosos e mais pobres. Indagar a qualidade de vida é perguntar-se sobre o cotidiano do ser humano, sobre os valores e os significados da existência humana em função das várias possibilidades de realização do verbo ‘ser’. ‘Alienação’ é a palavra-chave contra a qual o intelectual deve lutar, para que o homem se aproprie da sua própria dignidade através do trabalho e do exercício do verbo ‘ser’. Ernest Bloch dizia que a arte apresenta o presente e representa o futuro. Eu concordo. Então, o poeta deve representar um fragmento de futuro, um fragmento de utopia e perguntar-se sempre pelas possibilidade de realizações do verbo ‘ser’”. 

Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994.

Possiga na entrevist:

Como escreve?

Onde escreve?

O que é inspiração?

Música

Filosofia

Psicanálise

Biografia