"O ser humano é, por natureza, o ser da transcendência, não se basta no mundo das coisas perecíveis. Busca o tempo todo, vazar desse universo que colide com a morte e entrar, de algum modo, na esfera da imortalidade. Daí as religiões (religare) e até mesmo os rituais de alteração da consciência, como os que envolvem um simples copo de cerveja ou as drogas em geral. Essa obsessão por sair de um mundo concretamente real, por vezes até prazeroso, mas ameaçador em sua implacável finitude, tem motivado tragédia e as extraordinárias descobertas da história da humanidade. E a poesia se insere no foco dessa busca. Justamente, porque ela opera numa dimensão primeva da consciência manifesta. Ela revela ao indivíduo uma instância desconhecida da sua própria voz; ela o impacta, através dos signos da língua, com uma desconstrução inusual de sua própria expressão, que o confronta ao um outro outro, sendo o mesmo. É uma forma de conversar com Deus ainda em vida. Quem toma conhecimento dessa epifania, mesmo que seja por um instante, não consegue mais olvidá-la".
Fonte: www.benfazeja.com (ago.2011)