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Por que escrevo?
Viana Moog

"Tornei-me escritor por aberratio ictus, se é que se pode empregar no meu caso esta expressão. Digo isto porque minha vocação sempre foi a política, e tinham cunho político os primeiros artigos que escrevi para a imprensa gaúcha. Acontece, porém, que, exatamente por força dessa vocação política, meti-me nas revoluções de 30 e 32. Em conseqüência de minha participação, nesta ultima, fui, em desacordo com os regulamentos, transferido, como fiscal do imposto de consumo, de Porto Alegre para o Amazonas. Vindo a saber da transferência, eu, que tinha na capital do meu Estado uma excelente situação, não quis seguir. Fui, então, preso e deportado...S em dúvida, pois além de revelar-me a Amazônia, e portanto uma região das mais interessantes do Brasil, revelou-me outro lado de mim mesmo, ou, se você quiser, o escritor... Ora, desde que desembarquei em Manaus e, por dever do ofício ou por simples curiosidade, passei a viajar pelo Estado, comecei a sentir-me inclinado a escrever alguma coisa sobre aquele mundo novo com o qual estava travando relações. Aliás, é conhecida a fascinação que o Inferno Verde exerce sobre os viajantes nacionais e estrangeiros: veja Euclides, Inglês de Sousa, Tavares Bastos, Alberto Rangel, Gastão Cruls... Sem falar em Wallace e Humboldt. Também eu, portanto, não pude deixar de pagar meu tributo ao sentimento cósmico que inspira aquela região, que, como uma vez já disse, a gente não sabe direito se é o primeiro ou o último capítulo do Gênese... Comecei, então, a escrever, para um jornal de Porto Alegre, uma série de artigos sobre a realidade amazônica, artigos esses que vieram a constituir mais tarde o meu livro O Ciclo do Ouro Negro. (5) Qual não foi, porém, minha surpresa quando, por cartas recebidas do Rio Grande, fui informado de que meus artigos estavam agradando ... Continuei, porque aquele era um novo meio de ganhar dinheiro e eu não me achava, em absoluto, em boa situação financeira no Amazonas, e quando dei por mim estava feito escritor."

Fonte: SENNA, Homero. República das letras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996,


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