“Gostaria de crer na nova geração, mas não acredito. Todos resolveram fazer da literatura um divã de psicanalista. Voltaram-se para dentro, e infelizmente o único que se exterioriza é o ‘burro blanco’. A minha geração tinha ao menos o que combater, o que destruir. Esta encontrou o terreno aplainado e não consegue construir nada. Todos bem comportadinhos, uns garotões precoces, querendo ganhar prêmios. É difícil dizer entre eles o que escreve mais corretinho. Mas vá remexer no fundo, vá procurar idéias, vá auscultar as inquietações. Os críticos, por sua vez, limitaram-se as observações estilísticas. E julgam também que a literatura nada tem a ver com o país onde é produzida. Como todo povo subdesenvolvido, temos a mania de ser requintados. Ninguém se conforma em não ter nascido em Paris. Provavelmente teremos também literatura requintada, mas estranha a nós, inexpressiva, fria, reacionária. Mensagem aos jovens? Besteira! Não lerão minha mensagem. É muito mais cômodo romancear os complexos e fazer estilo. Isso dá prêmio, dá crítica e até emprego público”.
Fonte: Versus (São Paulo), n. 6, nov. 1976 – Marcos Rey (Extraído do Jornal da Senzala, n. 1, fev. 1968)
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