por Alberto Moravia
"Os Diários de Gide me parecem vaidosos, narcisistas, ligados a uma idéia antiquada de literatur, a idéia que dentro em breve Céline iria destruir com seu primeiro romance. Em Gide, acho detestável a obra assim chamada 'maior'. Gosto de dois livros curtos: Paludes e Thesée, e acho fascinantes seus livros sobre a África: Voyage au Congo e Le retour du Tchad. São livros que revelam o colonialismo sem o saber, sem suspeitar sequer o que sua denúncia começava a desencadear: comissões de inquérito, agitações da opinião pública. Gide chegara à Àfrica em 1926, como personagem oficial, e os governadores franceses o recebiam com todas as honras, mas isso não o impediu de falar abertamente sobre as mazelas que presenciava. O que o indignou abertamente foi a demência da política de exploração, de despovoamento, quase de genocídio, que as companhias internacionais impunham à África".
Fonte: AJELLO. Nello. Moravia: entrevista sobre o escritor incômodo. São Paulo: Civilização Brasileira, 1986
por Jean Cocteau
"Mais ou menos nessa época, conhecir Gide. Eu me contentava em rabiscar arabescos; encarava minha juventude como audácia, e confundia espirituosidade com profundidade. Mas alguma coisa em Gide - na época, de uma maneira não muito clara - fez com que me envergonhase disso... Começamos nossa disputa na imprensa por volta de 1919. Gide sempre quis ser visível; para mim, o poeta é invisível. Aquele que anda nu impunemente. Gide foi o arquiteto de seu labirinto, através do qual negou a condição de poeta ".
Fonte: Os escritroes 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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