Volta para a capa
Relações Literárias
ERNEST HEMINGWAY

por Alberto Moravia

"Hemingway escreveu ótimos livros na primeira parte de sua vida: Adeus ás armas, Fiesta, Quarenta e nove contos, As verdes colinas da África e até Morte à tarde. O desastre começa com Por quem os sinos dobram. Desse momento em diante Hemingway começa a imitar a si próprio e ssim prossegue até o final. Não tenho culpa disso. Quando eu o disse, todos os admiradores italianos de Hemingway se atiraram contra mim, e são uma legião. Ou eram, pelo menos: creio que agora estão diminuido um pouco".

Fonte: AJELLO, Nello. Maravia: entrevista sobre o escritor incômodo. São Paulo: Civilização Brasileira, 1986.

por Alejo Carpentier

“Quando morreu, eu transformei sua casa de “Cotorro” num museu. Infelizmente nunca entendeu bem Cuba. Certamente gostava da paisagem, mas – digo sem falta de respeito – não penetrou na psicologia dos cubanos, dos latino-americanos, dos espanhóis. Havia muita distância entre ele e nós. Ou entre nós e ele. Em Havana ia muito ao Centro Vasco e, certa vez, ouvi ele dizer ‘Para mim, a vida é trabalhar bem, comer e beber com os amigos e fazer amor’. Como poderia nos entender com esta filosofia?”.

Fonte: LEMUS, Virgilio López. Entrevistas: Alejo Carpentier. Havana, Editorial Letras Cubanas, 1985. 

por Anthony Burgess

"Considero Hemingway um grande romancista, mas ele nunca escreveu um grande romance (um grande conto, sim). Acho que os Estados Unidos gostam que seus artistas morram jovens, em reparação aos pecados de uma nação materialista".

Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

por Bernard Malamud

"Hemingway não falava em sua família a não ser de relance, em contos, particularmente, nas histórias de Nick Adams. Ele escreveu para o irmão, certa vez, que sua mãe era prostituta e o pai um suicida - quem iria querer ler sobre eles? É claro que nem toda sua experiência está disponível para o escritor para propósitos de ficção, mas acredito que, se Hemingway houvesse tentado, durante seus últimos cinco anos, digamos, escrever sobre seu pai em vez de falar de touros uma vez mais, ou do grande peixe, talvez ele não tivesse cometido suicídio".

Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

por Blaise Cendrars

"Conheci Hemngway no Closerie des Lilas em Paris. Eu estava bebendo; ele estava bebendo na mesa ao lado. Estava com um marinheiro americano. Estava de uniforme - provavelmente o de auxiliar de ambulância não-combatente, se é que não estou enganado. Foi no fim de outra guerra, 'a última das últimas'. Começamos a conversar, os dois numa mesa e eu na outra; os bêbados gostam de conversar. Conversamos, bebemos. Bebemos mais. Eu tinha um compromisso em Montmartre, na casa da viuva de André Dupont, um poeta morto em Verdum. Ia lá todas sexta-feira para comer bouillabaisse com Satie, Georges Auric, Paul Lombard e, às vezes, Max Jacob. Levei mes amigos bêbados norte-americanos comigo, achei que assim daria a eles alguma coisa boa de chez nous para comer. Mas os americanos não sabem apreciar a boa comida; não têm uma boa comida em seu próprio país, não sabem o que é. Hemingway e seu amigo não deram a mínima para os meus argumentos - preferiram ficar bebendo até acabar com a sede. Então larguei os doi num bar da rue des Martyrs, e fui correndo me tratar na casa da viuva de meu amigo".

Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

por Edilberto Coutinho

"Eu sabia pelos jornais que ele estava na Espanha e relutava em procurá-lo. Voltava ele em pleno domínio do sinistro Don Paco Franco. Sem dúvida, uma traição aos ideais de juventude, quando ele combateu o bom combate contra as forças fascistas. Pelo menos é sabidamente documentado que dirigiu uma ambulância, durante a Guerra Civil Espanhola, ajudando os legalistas, do lado dos republicanos espanhóis... Afinal, houve a coincidência de sentarmos lado a lado durante um tourada de Antonio Ordoñés. Ele não queria falar de literatura nem de política, somente de tourada. Especialmente do toureiro Ordonés, seu jovem amigo, que acompanhava de praça em praça... Hemingway me pareceu, a primeira vista, um velhinho maltratado e quase acabado. O touro sagrado da literatura já não andava na sua melhor forma quando o encontrei... Começamos mal nossa convera. Ele disse que não gostava da companhia de escritores e jornalistas. Não eram verdadeiros homens. Nada sabiam (sabíamos) do que fosse fidelidade, amizade autêntica, exemplarmente viril - segundo ele - como sua ligação ligação com Antonio Ordonés, a nova estrela que então surgia no horizonte taurino daquele meridianos ibéricos para anunciar o crepúsculo de Luís Miguel Dominguín. Anos antes, o velho escritor fora amigo de Dominguín - a quem hospedava em sua chácara em Cuba -, tendo-o chamado 'Don Juan das arenas'...Mas se indispôs com Dominguin e dizia o diabo do ex-amigo, mesmo tempo que exaltava apaixonadamene Antonio Ordoñés. 'É difícl encontrar verdadeiros homens entre os escritores', ele me disse. 'Ordoñés é um homem. Por isso o acompanho'. Ele afinal falou sobre política e sobre literatura durante nossas conversas. Disse que nunca fora marxista, mas legalista, explicando sua posição de luta contra o fascismo franquista. Atacou a crítica literária, de modo geral, dziendo que 'os débeis mentais dos críticos' não entendiam seus livros. Mudou subitamente de humor, e a uma pergunta  - sobre se continuava apreciando as emoções fortes - disse que sim, adorava a caça e a pesca, além das corridas de touro e - acentuou irônico - os interogatórios dos jornalistas... Ele me disse que se interessava pela tourada por várias razões. Uma delas era que o sucesso de uma corrida de touros se parecia ao de um livro. O toureiro, 'fabrica' o seu touro, ele me disse, lance por lance, como o romancista constrói o seu livro, parágrafo após parágrafo. 'Não estudei a tauromaquia em vão', ele disse. Acrescentou que seus livros nunca eram inventados. Ao contrário, tentava sempre descrever o que acontecia, com a maior exatidão possível. Por isto, gostava de dizer que tinha sido sempre, pricipalmente, um repórter. Referiu-se à sua amiga de juventude Gertrude Stein - 'aquela velha bruxa' -, que o desestimulara dizendo em Paris, nos anos 20, que ele era e sempre seria 'apenas repórter'. Era muito sensível e ficou triste, mas logo descobriu que não havia nada de mau - 'a não ser para aquela degenerada' - em ser um bom repórter. Era até melhor do que ser um mau escritor. Disse ainda que foi escrevendo para jornais que, realmente, aprendeu a escrever".

Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escriver. Porto Alegre: LP&M, 2008.

por Evelyn Waugh

Penso que Hemingway fez algumas verdadeiras descobertas sobre o uso da linguagem em seu primeiros romance, The sun also rises (O sol também se levanta). Eu admirava o modo come ele fazia os bêbados falarem".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

por F. Scott Fitzgerald

"Acho que Ernest Hemingway é o maior escritor vivo de língua inglesa. Ele assumiu o posto quando Kipling morreu; em seguida vem Tomas Wolfe, e depois Faulkner e Dos Passos".

Fonte: Entrevista concedida a MIchel Mok, no New York Post, de 25/09/1936. Extraido de ALTMAN, Fábio (org.). A arte da entrevista. São Paulo: Scritta, 1995.

por Gore Vidal

"Eu o detesto, mas não resta dúvida de que fiquei encantado com ele, quando era jovem, como ficamos todos. Aschava sua prosa perfeita... até que li Stephen Crane e percebi de onde é que ele a tinha tirado. Entretanto, Hemingway ainda é o mestre da autopublicidade, que me perdoe Capote. Hemingway conseguia convencer o mundo de que antes de Hemingway todos escreviam como ... quem? ... Gene Stratton Porter. Mas não houve apenas Mark  Twain antes dele, houve também Stephen Crane, que fez tudo aqulo que Hemingway fes e muito melhor. Não há dúvida de que The red badge of courage é superior a Farewell to arms (Adeus às armas). Mas Hemingway conseguiu produzir um estilo hipnótico cujo ritmo perseguiu muitos escritores. Eu gostava de algumas coisas sobre viagens: Green hills of Africa. Mas ele nunca escreveu um bom romance. Suponho que, no fim, o que eu mais deteste nele seja a espontaneidade de sua crueldade... Uma das razões por que o dotado Hemingway nunca escreveu um bom romance é que nada lhe interesava exceto algumas experiêcias sensuais, como matar coisas e poder: coisas interesantes de se fazer mas nem um pouco interesantes de se escrever. Esse tipo de artista vê-se em apuros muito cedo porque tudo aquilo sobre o que consegue realmente escrever é ele mesmo, e depois da juventude o eu – desengajado do mundo – é de somenos interesse. Reconheço, Hemingway perseguiu guerras, mas nunca teve muita coisa a dizer a respeito da guerra, ao contrário de Tolstoi ou mesmo Malraux".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

por Jean Cocteau

"Ele me disse uma coisa muito interessante. Disse: 'A França é impossível. As pessoas são impossíveis. Mas vocês têm sorte. Nos Estados Unidos o escritor é visto como uma foca amestrada, um palhaço. Mas aqui respeitam tanto os artistas que quando você disse: Cuidado; Genet é um gênio, quando você disse que Genet era um grande escritor, ele não foi condenado; os juizes ficaram com medo e o deixaram livre'. E isso é verdade,  o que Hemingway disse. Os franceses são destatentos, o pior público do mundo - no entanto, o artista é respeitado. Nos Estados Unidos, acho que as platéias nos teatros são muito respeitosas, muito sérias".

Fonte: Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

por John dos Passos

"Ernest e eu costumávamos ler a Bíblia um para o outro. Ele é que começou. Líamos pequenas cenas separadas. Do Livro dos Reis, das Crônicas. Não entedíamos nada - da leitura -, mas Ernest na época falava muito sobre estilo. Era doido por The blue hotel, de Stephen Crane. Afetou-o bastante. Levou-me a visitar Gertrude Stein. Não fiquei muito à vontade. Um buda sentado, a nos observar. Ernest era bem menos barulhento então do que em anos posteriores. Considerava gente como ela instrutiva... Ele sempre foi competitivo e crítico, até demais, mas na juventude ainda se podia dissuadi-lo. Seus antecedentes não eram bons. O pai, aparentemente, era muito dominador e a mãe, uma mulher muito estranha. Lembro-me de uma ocasião em que estávamos em Key West e Ernest recebeu uma grande encomenda da mãe. Dentro havia um bolo enorme, meio amassado. Junto, ela havia posto várias outras coisas, inclusive a pistola com a qual o pai dele tinhase suicidado. Ernest ficou tremendamente pertubado".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

por J.M. Simmel

“Hemingway era um exemplo especial. Eu sempre pensava que faria tudo para escrever um livro como Por quem os sinos dobram. Trata-se de uma obra genial.”

Fonte: O Globo, 18/09/1994 – Graça Magalhães-Ruether

por Jorge Fernando dos Santos

"Mesmo que alguns críticos ainda tentem até hoje denegrir a imagem do autor e desvalorizar seus contos e romances, o fato é que o velho “papa” firma-se cada vez mais como um dos principais autores do século. Seu estilo seco e preciso e sua técnica magistral, que despreza adjetivos e advérbios procurando valorizar a ação do sujeito, influenciou escritores em todo o mundo, alguns internacionalmente consagrados, como Norman Mailer e Gabriel García Márquez".

Fonte: SANTOS, Jorge Fernando dos. Hemingway, caçador de si mesmo. www.jorgefernandosantos.com.br (15/08/2008)

por Nadine Gordimer

"Hemingway deve ter influenciado todo mundo que começou a escrever no fim da década de 1940, como eu... Me influenciou através de seus contos. A redução, entende, e também o uso do diálogo. Hoje penso que uma grande falha nos contos de Hemingway é a onipresença davoz de Hemingway. As pessoas não falam por si mesmas, em seus próprios esqemas de pensamento; elas falam como Hemingway. O 'disse ele', 'disse ela' da obra de Hemingway".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

por Saul Bellow

"Penso em Hemingway como um homem que desenvolveu uma conduta significativa enquanto artista, um estilo de vida que é importante. Para a geração dele, sua linguagem criou um estilo de vida, algo a que ainda se apegam velhos e patéticos cavalheiros. Não considero Hemingway um grande romancista.

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

por Truman Capote

"Hemingway é um construtor de parágrafos de primeira classe... Nos últimos trinta anos, Hemingway, estilisticamente falando, influenciou maior número de escritores, em escala mundial, que qualquer outro."

Fonte: Escritores em ação: as famosas entrevistas à Paris Review. R.Janeiro: Paz e Terra, 1968.

por William Styron

“Hemingway foi muito influente, mudou todo um estilo literário. Pessoalmente não o considero tão bom. Li-o quando era jovem, fiquei muito impressinado na época, mas não hoje em dia. Mas devo admitir que ele foi um escritor revolucionário, que mudou a percepção de toda uma geração”.

Fonte: O Globo, 07/03/1993 

Prossiga na entrevista:

Por que escreve?

Como escreve?

Onde escreve?

Influências literárias

Jornalismo

Política

Conselho literário

Biografia