“Saberás, pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te damos a ler. (...) Cuidas que vamos estudar a História, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os edifícios, as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o somos (...) isso é trabalho difícil, longo, delicado; exige um estudo, um talento, e sobretudo um tacto!... (...) a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico.
Todo o drama e todo o romance precisa de:
Uma ou duas damas (mais ou menos ingênuas)
Um pai (nobre ou ignóbil)
Dois ou três filhos de dezanove a trinta anos
Um criado velho
Um monstro, encarregado de fazer as maldades
Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios (e centros).
Ora bem, vai-se aos figurinos franceses de Dumas, Eug.Sue, de Victor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que precisa, (...) forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se uns poucos nomes e palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões; com os palavrões iluminam-se... (...)
- E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original”
Fonte: Almeida Garret. Viagens na minha terra. Extraído de FREITAS, Helena de Souza. Jornalismo e literatura: inimigos ou amantes? Lisboa: Peregrinação Publications, 2002.
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