"Eu escrevo com uma caneta hidrográfica, ou, às vezes, um lápis, em blocos de anotações amarelos ou brancos, aquele fetiche de escritores americanos. Eu gosto da lentidão da escrita à mão. Então eu digito isso e depois rabisco tudo. E continuo redigitando, sempre fazendo correções, tanto à mão quanto diretamente na máquina de escrever, até que não veja mais como tornar aquilo melhor. Até cinco anos atrás, era assim. Desde então há um computador em minha vida. Depois do segundo ou terceiro rascunho isto vai para o computador, então eu não redigito todo o manuscrito mais, mas continuo revisando à mão numa sucessão de rascunhos e cópias para o computador. […] Eu escrevo em jorros. Escrevo quando tenho que escrever, quando a pressão aumenta e sinto confiança suficiente que algo amadureceu em minha cabeça e eu tenho que escrever isto. Quando algo está realmente a caminho, eu não quero fazer mais nada. Eu não saio de casa, na maioria das vezes me esqueço de comer, eu durmo muito pouco. É uma forma de trabalho bem indisciplinada e não me faz muito prolífica. Mas eu estou muito interessada em várias outras coisas."
Fonte: www.papodehomem.com.br (20/3/2015) Paris Review
"'O que se escreve sem esforço geralmente se lê sem prazer', disse o dr. Johnson, e a máxima parece tão distante do gosto contemporâneo quanto seu autor. Certamente muito do que se escreve sem esforço produz grande prazer. Não, a questão não é a opinião dos leitores - que bem podem preferir o trabalho mais espontâneo, menos elaborado de um autor -, mas um sentimento dos escritores, esses profissionais da insatisfação. Você pensa: se consegui chegar a esse ponto na primeira tentativa, sem grande esforço, não poderia ficar ainda melhor? E embora isso, reescrever e reler, pareça um esforço, na verdade é a parte mais prazerosa. Começar a escrever, quando se tem na cabeça a idéia de 'literatura', é foprmidável, desafiador. Um mergulho num lago gelado. Depois vem a parte quente: quando você já tem alguma coisa para aperfeiçoar, editar. Digamos que esteja uma droga. Mas você tem a oportunidade de corrigir. Tenta ser mais claro. Ou mais profundo. Mais eloquente. Mais excêntrico. Você tenta ser fiel a um mundo. Quer que o livro seja mais abrangente, mais decisivo. Você quer se extrair de si mesmo. Quer extrair o livro de sua mente indecisa. Assim como a estátua está inclusa no bloco de mármore, o romance está em sua cabeça. Você tenta liberá-lo. Tenta colocar aquela balbúrdia na página da forma mais próxima do que você acha que seu livro deva ser - o que você sabe, em seus espasmos de inspiração, que ele pode ser. Você lê as sentenças várias vezes. É esse o livro que estou escrevendo? Só isso? Ou digamos que esteja indo bem; porque às vezes vai bem (se não fosse, em alguns momentos, você ficaria louco). Lá está você, e, mesmo que seja o mais lento dos escribas e o pior dos datilógrafos, um rastro de palavras vai-se depositando, e você quer continuar; então relê. Talvez não ouse ficar satisfeito, mas ao mesmo tempo gosta do que escreveu. Descobre-se tendo prazer - o prazer do leitor - com o que está na página".
Fonte: Folha de São Paulo, 18/03/2001
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