6º Emprego:
Auxiliar Administrativo
Cícero da Mata
Este foi o emprego mais importante de toda a minha vida profissional, pois foi a partir dele que me defini profissionalmente. Mas não foi só por isto, neste emprego estabeleci uma rede de relacionamentos e amizades pessoais que mantenho até hoje. Durante quase 40 anos voltei a trabalhar no mesmo ramo e com as mesmas pessoas em diversas ocasiões, incluindo o último trabalho em que me encontro atualmente.
Cheguei ao Metrô através da indicação de amigos que lá trabalhavam, devido ao fato de ter trabalhado anteriormente numa biblioteca. Eles precisavam de uma pessoa para organizar um arquivo técnico de um grande departamento, mas não precisava ser bibliotecário. Bastava que tivesse alguma noção de arquivo e rotinas administrativas.
No processo de admissão, fui entrevistado pelo chefe do Departamento de Métodos Operacionais-OMT, José Seishun Hanashiro, um japonês sem cabelo algum e temperamento "zen". De imediato perguntou se eu tinha facilidade para fazer resumos. Eu balancei um pouco na cadeira e, querendo o emprego, disse que talvez sim, perguntei que tipo de resumo, que vendo melhor o texto poderia responder com mais propriedade. Ele, então, perguntou se eu tinha lido o romance "Vidas secas", de Graciliano Ramos. Gelei, mas por sorte eu havia visto o filme. Disse-lhe isto e ele pediu para que fizesse um resumo falado da obra.
Não não devo ter me saído mal no resumo. Vieram outras perguntas sobre arquivo e uma semana depois eu estava empregado como auxiliar administrativo, trabalhando no prédio do Centro de Controle Operacional-CCO do Metrô, na Rua Vergueiro. O trabalho no OMT foi excepcional, cuja descrição, em parte, foi relatada em outro texto (http://www.tirodeletra.com.br/ensaios/Osmetodosoperaconais.htm).
Comecei a trabalhar em outubro de 1973 e no ano seguinte decidir fazer curso de biblioteconomia com a finalidade de dar mais sustentação ao trabalho, pois eu fazia um trabalho de bibliotecário, porém sem diploma. No OMT organizei um Centro de Documentação Técnica, com a ajuda de uma assistente administrativa, e passei a prestar serviços de organização e busca de informações para as 160 pessoas do OMT e, eventualmente, o pessoal do departamento vizinho: OPE- Departamente de Operação. Eu fazia a ponte entre a Biblioteca do Metrô, que ficava na Rua Augusta, e as necessidades de informação do OMT.
O entrosamento com os engenheiros era tão bom que, de vez em quando, eu era chamado para auxiliá-los em algum trabalho de campo. Calibrar o tempo de abertura de portas do carro nas estações, por exemplo. Lembro que em 1974, deu-se a inauguração do Metrô no trecho Jabaquara-Vila Mariana. Participamos da festa com a presença do Governador e autoridades, onde todos os funcionários receberam uma medalha prateada com com o logotipo e a frase: "Eu construí o Metrô de São Paulo". Infelizmente perdi minha medalha.
Até hoje me pergunto como foi possível em tão pouco tempo criar uma relação tão sólida e próspera como a que criamos dentro do OMT. Em fins de 1975, um amigo do Seishun, Mario Rossetto, ex-chefe do CPD do Metrô, trabalhava junto ao Governo do Estado na criação de uma Companhia de Promoção de Exportação de Manufaturados do Estado de São Paulo-COPEME. Ele conhecia um pouco do nosso trabalho de documentação, e perguntou ao ao Seishun se eu não poderia ser cedido para trabalhar com ele na criação de um centro de documentação da COPEME. Seishun, magnânimo como sempre, cedeu e eu parti para o 6º emprego em novembro de 1975.
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