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Memória

 

Encontros com Darcy Ribeiro

J.D. Brito

                                     Primeiros encontros

      Os primeiros encontros – com qualquer pessoa - são fundamentais para o estabelecimento do contato. Até aí choveu no molhado, mas se for uma pessoa como Darcy Ribeiro a coisa muda de figura. As pessoas públicas são muito ocupadas, com pouco tempo à dispor. Assim, dos contatos que tive com ele, os três primeiros foram, particularmente, reveladores da personalidade que caracterizou Darcy Ribeiro ao longo da vida.

     Mas, antes, é preciso que se fale das circunstâncias – no sentido empregado por Ortega y Gasset - em que se dá o encontro. Éramos dois “mochileros” em viagem pela América do Sul. Eu, recém formado em Estudos Sociais, não queria me empregar como professor secundário; meu amigo, recém saído da prisão (DOPS), não suportava o regime militar nos tempos do governo Médici. Ambos queríamos “sartar” do Brasil, como se dizia na época e como muitos fizeram.

     Em fevereio de 1973 chegamos ao Chile com o país em ebulição. Mal sabíamos que pouco depois viria o golpe de estado que vitimou o presidente Allende e muitos outros “companheiros”. Alí se encontravam, entre os milhares de brasileiros exilados, três destacados intelectuais com as quais meu amigo queria conversar: Rui Mauro Marini, Theotônio dos Santos e Darcy Ribeiro. Os encontros, dos quais eu não participei, pois conhecia-os apenas de nome, se deram com os dois primeiros, e logo meu amigo ficou sabendo que Darcy, que pouco antes assessorava Allende, estava agora no Peru ajudando o governo Alvarado a estabelecer uma nova política para o país.

     Em fins de março saímos de Santiago e atravessamos o Deserto de Atacama de cabo a rabo. Depois de três dias sacolejando num velho trem chegamos a Arica, fronteira com o Peru, e paramos um pouco para descansar. Mais uma semana de viagem sempre “a dedo” e passando por cidades como Arequipa - a “República Socialista Arequipeña”, no dizer de uns estudantes - estávamos entrando em Lima. Em visita a um jornal local conversamos com o jornalista brasileiro Paulo Canabrava, que, deconfiado, disse que Darcy estava auxiliando o presidente Alvarado num projeto denominado "SinAmos" (sem patrões), e não sabia onde encontrá-lo. Mas nos deu o endereço de um diplomata seu amigo (não lembro o nome), que poderia nos ajudar.

      Fomos procurá-lo no elegante bairro de Miraflores; a empregada nos atendeu; dissemos que estávamos à procura de Darcy Ribeiro e que fomos mandado lá pelo Paulo Canabrava. Não sei porquê, a empregada nos tratou como amigos de seu patrão; mandou entrar e disse que ele estava no Brasil, mas que já devia estar voltando. Se quizéssemos, poderíamos esperar lá mesmo, pois o apartamento era grande e podia nos hospedar. Mais do que depressa aceitamos o convite e ficamos numa boa, vendo TV, ouvindo os discos brasileiros do diplomata, e até comendo uns lanchinhos que a empregada fazia para a gente. Durante toda a viagem, foi o lugar onde melhor nos hospedamos. Dois dias depois, o diplomata chegou e levou um susto com a nossa presença. No entanto, ficou acanhado em nos expulsar de sua casa, o que de fato gostaria. Nos perguntou várias vezes quando iriamos embora, e dissemos que assim que encontrarmos com o Darcy. Na ânsia de nos ver longe de seu apartamento, disse que poderiamos encontrá-lo facilmente no prédio do Ministério do Planejamento.

       Eu relutei um pouco em participar do encontro com o Darcy. Não tinha o que lhe perguntar; não conhecia sua obra; apenas sabia da existência de seu famoso livro “O processo civilizatório”; que ele fora Ministro (e "eminência parda") de Jango; fundador da Universidade de Brasília e defensor dos índios. Não estava afim de ir lá apenas assistir uma conversa politizada da qual eu não participaria. Mas, com a insistência de meu amigo, para lá nos dirigimos e, enquanto obtínhamos informação num guichê, vimos de longe o Darcy passando por um corredor. Corremos até ele, o meu amigo nos apresentou e disse o que queria:

     - "Somos estudantes de São Paulo em viagem pela América do Sul e gostaríamos muito de conversar com o senhor sobre o Brasil, entre outras coisas".

     A recepção foi calorosa, com o sorriso largo e o verbo solto:

    - "Sou eu que quero mais conversar com vocês do que vocês comigo. Ando com uma saudade danada do Brasil e faz tempo que não converso com ninguém de lá. Mas agora não vai dar, vamos marcar para amanhã. Eu encontro vocês na Plaza San Martin à tardinha, lá pelas 5h. Por essa hora lá sempre tem umas apresentações de rua. Fiquem por lá que eu os encontro".

     Dito e feito, no outro dia estávamos na praça assistindo uma apresentação de um grupo de teatro, quando Darcy apareceu entusiasmado. Parecia que nos conhecíamos de longa data, dada a desenvoltura com que ele nos cumprimentava e falava sobre a apresentação que se desenrolava. Creio que foi logo depois desse momento que meu amigo disse-lhe o que queria mais objetivamente: estava à procura de “linha”; queria uma conversa de cunho e orientação política. Percebi que Darcy captou a mensagem, mas não deu muita importância. Via-se que estava mais interessado numa conversa amigável com aqueles dois jovens (de 21 e 22 anos) sobre o Brasil e o modo como estávamos fazendo aquela viagem “a dedo”.

     Ficamos por uns 15 minutos conversando e vendo a apresentação, quando Darcy nos convidou para irmos conversar noutro local, ali mesmo na praça: um elegante bar com mesas e poltronas, onde ele encontrou um amigo peruano, que foi convidado a sentar à mesa conosco. Ficamos por mais de duas horas bebendo e petiscando numa conversa descontraída. Ele explicou para o amigo como nós viajávamos e nos perguntava sobre o que havíamos estudado; se estávamos gostando do Peru; o que nossos pais acharam daquela viagem etc. E dizia que isso é o que ele gostaria de ter feito também quando jovem. Meu amigo permaneceu mais calado à espera de uma oportunidade para a conversa “séria” que deveriam ter, mas não era a ocasião. Darcy queria falar de outras coisas, de coisas mais amenas.

     Ao sairmos do bar, ele marcou a tal conversa para o dia seguinte em seu gabinete e deu 30 soles para cada um de nós. Foi um dinheiro que nos ajudou bastante na permanência em Lima. Para termos uma idéia de valor, 30 soles naquela época deu para fazer as três refeições do dia durante uma semana. No outro dia fomos ao seu gabinete, uma grande sala com poucos móveis e uma mesa de reunião. Sentamos de frente à sua mesa de trabalho; ele mandou servir água e café e, de imediato, perguntou em que poderia ser útil. Meu amigo foi direto ao assunto:

     - "Bem, eu sou trotskista e..."

     Darcy, sem querer cortar a conversa, mas já cortando, ficou sério e me dirigiu o olhar querendo saber qual era a minha.

     - "Eu não sou “ista” nenhum".

     Ele se reencostou na poltrona, meio pensativo e, se dirigindo ao meu amigo, perguntou:

     - "Você poderia me falar sobre o que Trotsky disse que Marx não tenha dito?"

     Meu amigo emitiu algumas palavras que não me recordo e, a partir daí, a conversa desandou. Darcy passou a nos dar conselhos: que deveríamos conhecer melhor o Brasil; que aquela nossa viagem era muito boa, mas que deveríamos fazer aquilo também pelo interior do Brasil etc., etc. Concluiu o aconselhamento com a indicação de um livro que deveríamos ler para entendermos melhor o nosso país em sua dimensão continental. Título do livro: Acerca da questão nacional, de Stalin. Meu amigo ficou surpreso com a indicação, mas não falou nada. Em seguida, disse que seu tempo era muito exíguo; nos levou até a porta, desejou sorte em nossa viagem e se despediu cordialmente.

     Antes mesmo de sairmos do prédio, meu amigo esbravejava:

     - "Porra, o cara é stalinista! Como é que só agora eu fico sabendo disso! O cara é stalinista!"

     Na verdade ele juntou outros adjetivos menos nobres, o que provocou uma discussão entre nós. Pois, eu havia gostado do Darcy, do modo como nos recebeu, e não dispunha de aparato ideológico algum para julgar seus aconselhamentos. Na minha ingenuidade, achei até que ele foi um bom conselheiro, não obstante o “puxão de orelha” referente a necessidade de conhecer melhor o Brasil antes de conhecer a AAmérica do Sul. Lembro que nossa discussão foi bastante acalorada com ele no ataque e eu na defesa do Darcy. Desse modo, ficamos emburrados por algum tempo durante a viagem. Pouco depois saímos de Lima em direção ao Equador. Creio que o relacionamento com o meu amigo só veio a melhorar quando chegamos a Chiclayo, uma belíssima cidade com um povo acolhedor, onde era difícil mantermos o mau humor.

        Encontros fortuitos

 

      Alguns meses depois dos primeiros encontros com Darcy no Peru, volto a residir em São Paulo e me encontro trabalhando como arquivista e cursando a Faculdade de Biblioteconomia, em 1974. Está visto que a imagem do Darcy me ficou gravada numa boa lembrança. Nesse novo trabalho passei a ter contato com uma quantidade razoável de revistas, jornais e publicações, onde era freqüente matérias sobre sua pessoa, textos seus ou entrevistas. Passei a colecionar estes textos, e a organizá-los por temas, tal era a quantidade.

      Fui organizando-os segundo os temas em que Darcy pontificava: índios, educação, política, América Latina, economia etc. com a intenção de fazer daquele calhamaço de cópias xerox, mais um livro do Darcy. Eu seria apenas o compilador. Em princípios de 1977, no “Ato contra a Emancipação dos Índios”, no auditório da PUC, Darcy era a principal personalidade a discursar contra a intenção do Governo em “emancipar” os índios. Compareci ao evento com a finalidade de gravar sua palestra e conversar sobre a intenção de fazer o tal livro.

      Fui bem recebido na abordagem. Disse-lhe que queria recolher todo o material veiculado pela imprensa e organizá-lo para edição. Ele disse que eu não podia ter todo o material, pois havia coisas publicadas em outros países. Demonstrou interesse no trabalho e combinamos de eu enviar lhe a relação do que eu tinha para que ele pudesse me enviar o que faltava. Enquanto conversávamos, e antes de pegar seu endereço, uma moça muito bonita vem em sua direção toda sorridente. Nesse instante eu desapareci da cena e o Darcy dá uns passos em direção ao encontro com a moça. Não era uma moça qualquer, era a Bruna Lombardi

     - Mas, minha querida! Você é autárquica ou é mesmo filha de pai e mãe?

       Bem, a partir daí não deu mais nem para pegar seu endereço, e eu não me senti à vontade para interromper aquele idílico encontro. Continuei na busca de mais textos e entrevistas ao mesmo tempo em que ia compondo o livro. Em julho de 1977, fui revê-lo na 29ª Reunião da SBPC, realizada em São Paulo, onde ele pronunciou um dos seus mais belos discursos: “Sobre o óbvio”. Neste dia não nos falamos. O número de pessoas importantes que acorreram para cumprimentá-lo não permitia encontros menores. Mais tarde, numa viagem que fiz ao Rio de Janeiro, falamos por telefone mais de uma vez afim de termos um encontro pessoal para tratar do assunto. Mas o encontro não foi possível, devido, creio, a sua agenda política. Por esta época seu envolvimento com o Governo Brizola começava a tomar corpo. Mas aproveitei a ocasião para contatar seus amigos Oscar Niemayer e Antonio Callado, convidando-os para prefaciar e apresentar o livro. Quanto ao Niemayer, a aceitação foi imediata; quanto ao Callado, só obtive a resposta mais tarde, em carta, através do próprio Darcy. 

       Eu já andava impaciente com a edição do livro. Assim em fins de 1978, preparei uma “edição caseira” contendo todo o material encontrado; botei um título provisório Darcy Ribeiro: Matéria de jornal, e mandei para ele, via correio, como presente de Natal. Na carta anexa, expliquei que era uma edição preliminar; que precisava de alguns acertos; complementações, que ele mesmo poderia opinar. Afinal, o livro era dele. Em março de 1979 recebi uma simpática carta, que começava assim:

     “Folheei muitas vezes seu livro darcísico. Tantas que quase fiquei narcísico; mas me enchi de ternura pela devoção amiga com que você colecionou e organizou esse copiosíssimo material resultante de minhas múltiplas falas. Vi, porém, que não são mais do que falas; merecedoras, como tal, no máximo, das luzes de uma publicação jornalística. Deixe-me ponderar a você, meu querido Brito, que para fazer dessa matéria bruta um livro....”  E explicou que seria preciso um árduo trabalho; um esforço e uma atenção que ele não estava podendo despender, pois havia tarefas mais urgentes requerendo sua atenção. E mais, que “conversei com o nosso amigo Callado e ele concordou comigo”. Encerrou dizendo “Aqui fica, Brito, meu abraço fraterno e agradecido, junto com o desejo de que encontremos um modo amanhã, de fazer um trabalho a quatro mãos”.

        Poucos meses depois, visitando uma livraria, encontro um novo livro de Darcy intitulado “Ensaios insólitos”. Ao abri-lo fui surpreendido com o sumário organizando o livro de modo mais ou menos semelhante a brochura que eu havia lhe enviado no ano passado. “Sobre o óbvio”, um dos principais textos da brochura, é o “ensaio insólito” que abre o livro. A princípio fiquei aborrecido pelo fato de ele ter feito o livro “a duas mãos”, me excluindo do projeto editorial e expressei meu descontentamento através de um telefonema. De qualquer modo, me conformei com o fato de apenas ter lhe inspirado mais uma obra. Aliás, uma de suas importantes obras, que foi traduzida em diversos países.

        O tempo agiu no sentido de eliminar totalmente minha mágoa e me fez ver que afinal o livro era dele, como era sua a decisão em querer ou não um compilador de suas “múltiplas falas”. Passado mais alguns anos, volto a encontrá-lo em São Paulo, no lançamento de seu livro Migo, em 1988. Enfrentei a fila de autógrafos com meu filho Juliano, de 10 anos; conversamos rapidamente; falei-lhe que o Juliano estava lendo seu livro Aos trancos e barrancos, e que ele havia gostado muito daquela página, onde aparece a caricatura de um negrinho, menino de rua, recitando um versinho:

                            “Eu sou pequenininho

                             do tamanho de um botão.

                             Trago um pirulito no bolso

                             e na cintura um tresoitão”

        Não estou bem lembrado, mas o verso era mais ou menos assim. Ele riu um bocado; elogiou a inteligência do Juliano; nos despedimos e esta foi a última vez que nos falamos. A partir daí seu envolvimento com o Governo Brizola se aprofundou; virou secretário de diversas pastas no Rio de Janeiro, até se tornar senador. Só mais tarde, após sua morte, fomos nos encontrar de novo. Um encontro póstumo, onde casualmente consegui aquilo que havia intentado anos antes: acrescentar mais livro à bibliografia de Darcy Ribeiro.

 

 

Encontros póstumos

 

         As grandes personalidades só se tornam realmente grandes após a morte, e com Darcy Ribeiro não foi diferente. Em 1997, logo após seu falecimento, começaram as homenagens; o reconhecimento dos serviços prestados; a reavaliação de sua obra etc. Nesta época eu trabalhava no Centro de Documentação do Parlamento Latino--Americano, com sede, em São Paulo junto ao Memorial da América Latina, de cuja construção ele participou ativamente. Tínhamos lá uma publicação periódica - Cadernos do Parlatino - que se arrastava em busca de novos temas a serem abordados.

         Na brochura que eu enviei ao Darcy anos antes inclui alguns textos referentes à América Latina. Havia também um disco “long play” que o Darcy gravou em 1978, parte da coleção “Voz viva da América Latina”, mantida pela UNAM-Universidad Nacional Autônoma de México. Trata-se de uma importante coleção de depoimentos de personalidades latino-americanas, cujas vozes a UNAM quer deixar gravadas para a História. Este disco nunca foi divulgado no Brasil e o texto gravado mantinha-se inédito até então. Para completar, Darcy, em sua crônica semanal publicada na Folha de São Paulo de 03/06/1996, escreveu um de seus últimos textos intitulado “América Latina Nação”, escrito assim, sem vírgula e dito num fôlego só, afirmativo, imperativo.

         Reuni estes textos; pedi uma cópia da gravação e autorização para publicar à FUNDAR-Fundação Darcy Ribeiro; traduzimos do “portunhol” para português e editamos o “Cadernos do Parlatino” nº 13, em janeiro de 1998. Para a apresentação, convidei nosse chefe, Fernando Gasparian, seu amigo de longa data, que escreveu um texto primoroso e revelador de mais algumas facetas de Darcy. Como título, demos o mesmo que foi dado à sua última crônica publicada na Folha de São Paulo: “América Latina Nação”. Logo no início da fala gravada, Darcy faz uma especulação: “Eu imagino aquele homem que num futuro muito longínquo estará me escutando, como eu escutaria uma mariposa batendo as asas e se pergunta: O que é que esse homem está dizendo? E que língua ele fala: catalão? Não, catalão não é. Galego? Não, não é galego. Português não é, com certeza e espanhol, também não. Mas, então, que língua ele fala? Aquele homem perplexo que se pergunta não sabe que eu falo ‘espanhoguês’ ou ‘portunhol’, eu não sei bem. É uma língua que eu estou inventando, e é uma língua de certa forma, cômoda. Eu suponho mesmo que, é possível que estejamos gravando o primeiro documento da língua da América Latina integrada”. 

       Pois bem, a América Latina integrada foi um sonho de Darcy Ribeiro, cuja semente foi lançada efetivamente com a sede do Parlatino em São Paulo, a maior cidade latino-americana, em 1992. Infelizmente a semente não germinou; os parlamentares latino--americanos não foram capazes de manter este sonho e o Governo de São Paulo retomou o prédio da sede em 2007. De certa forma, poderíamos contabilizar mais este fracasso na vida de Darcy Ribeiro, no sentido atribuído por ele mesmo: “Somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas detestaria estar no lugar de quem venceu". Digo poderíamos porque, em verdade, não podemos. Ele construiu os alicerces, o Memorial da América Latina, onde foi instalada a sede permanente do Parlamento Latino-Americano, que durou apenas 15 anos. Eu sou testemunha disso, pois trabalhei lá desde o início até seu melancólico fim, motivado pela incompetência e descaso dos parlamentares brasileiros e latino-americanos de um modo geral. Pode-se afirmar que se Darcy estivesse vivo, talvez a sede do Parlatino não fosse transferida para o Panamá.   

       Voltando aos “Cadernos do Parlatino”, a publicação foi editada numa tiragem de mil exemplares e distribuída entre os parlamentos da América Latina, sendo que 100 exemplares foram doados à FUNDAR, onde hoje consta, para minha satisfação, como uma das obras de Darcy Ribeiro. Não obstante tratar-se de um livrinho de apenas 85 páginas, a publicação tem o mérito de trazer um texto inédito e importante de Darcy: “Voz viva da América Latina” e reeditar outro texto, publicado no jornal venezuelano “El Nacional”, em 1973 (“Venutopias 2003”), onde é feito uma prospecção da região nos próximos 30 anos. Este texto saiu, também, no jornal “Opinião”, em 1975. Mas, tendo em vista sua qualidade, merece uma reedição.  

       Para concluir resta explicar o por quê de “Encontros póstumos”. Houve mais de um? Conforme demonstrado, os “Cadernos do Parlatino” é uma publicação interna, de circulação restrita. Logo, sua edição não foi divulgada ao público em geral. Permanece, portanto e de certa forma, inédita. Outro dado é que, tenho certeza, o Darcy dispõe de outros textos sobre a América Latina, que poderiam engrossar a edição. Assim, meu desejo é reeditar, para divulgação pública, o livro “América Latina Nação” ampliado e contendo um CD com a apresentação de Darcy em “Viva voz”. Para isto estou entrando em contato com a FUNDAR, que dispõe de todos estes textos. Precisamos completar mais esta obra de Darcy Ribeiro. O projeto editorial já está pronto.

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José Domingos de Brito é Bibliotecário e Editor do site www.tirodeletra.com.br

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