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Grandes entrevistas

 

Lêdo Ivo

Entrevistado pelo jornal Rascunho, 09/10/2012

Lêdo Ivo, nascido em 1924, já foi o mais jovem poeta brasileiro, tendo lançado seu primeiro livro de poemas, As imaginações, com apenas 20 anos. A obra logo foi premiada pela Academia Brasileira de Letras, onde hoje Ivo passa as tardes, ocupante desde 1986 da cadeira de número 10. Alagoano de Maceió, o poeta, romancista, contista, jornalista e ensaísta mudou-se para o Recife em 1940, sendo muito influenciado pelo ambiente intelectual da cidade. Formou-se advogado pela antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, mas nunca exerceu a profissão, preferindo as redações e as letras. Sua poesia é marcada pela preocupação com a linguagem, aproximando-o da terceira geração do modernismo, e sua obra, dentre romances, contos, crônicas e ensaios, já foi traduzida e publicada nos Estados Unidos, Holanda, Dinamarca, México, Chile, entre outros países. Nesta conversa, Lêdo Ivo relembra histórias da infância e responde qual é a única obrigação que pensa ter a literatura.

Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Na infância, quando lia histórias de piratas, ilhas do tesouro e naufrágios nos mares do Sul, eu desejava ser um poeta e escritor. Aspirava a ter uma linguagem para proceder à celebração do mundo e da vida.

Quais são as suas manias ou obsessões literárias?
Não me conheço suficientemente bem para lhe responder a essa pergunta. Para ser sincero, não sei quem sou.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
A leitura do mundo, que está nos jornais, na TV, na internet e em Homero e em Shakespeare, nas paisagens, nas ruas, em tudo o que me cerca e nas vozes que escuto desde a manhã até a noite.

Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Todas são ideais, desde o silêncio de escritório até a travessia aérea do Atlântico.Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
O silêncio.

Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
O silêncio.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
O dia em que consigo usar adequadamente um ponto-e-vírgula.

O que lhe dá mais prazer no processo da escrita?
A escrita.

Qual o maior inimigo do esscritor?
O próprio escritor.

O que mais o incomoda no meio literário?
O meio literário. Ele me hostilizou tanto, ao longo de meu caminho, que terminei me refugiando na Academia Brasileira de Letras, que é o meu esconderijo.

Um autor em quem se deveria prestar maior atenção?
Homero. Ou Dante. Ou Camões. Ou Quevedo. Ou Alexei Bueno.

Um livro imprescindível e um descartável?
Todos os livros são imprescindíveis e são descartáveis. A imprescindibilidade e o descartamento dependem do leitor.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Uma traça ou um elogio no segundo caderno de um grande jornal.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
O próprio assunto.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
A latrina de um hotel cinco estrelas, em Madri.

Quando a inspiração não vem…
É exatamente quando ela vem.

O que é um bom leitor?
O releitor. Prefiro ter um leitor que me releia (se é que o tenho) a ter mil que só me leiam uma vez.

O que te dá medo?
O medo.

O que te faz feliz?
A felicidade.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Sou sempre guiado pela dúvida, que é a minha certeza.

A literatura tem alguma obrigação?
Ela deve ser literária.

Qual o limite da ficção?
A própria ficção.

O que lhe dá forças para escrever?
As minhas fraquezas.

Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder” a quem você o levaria?
Ao encontro de Deus.

O que você espera da eternidade?
Que não seja eternidade, e sim o tempo em que respiramos. A eternidade é o pseudônimo do tempo. Eternidade e tempo são a mesma coisa. Depois vem a morte, que é nada e não é nada.

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