Inspiração é o oposto da expiração; é o complemento da respiração; é o alento da realização; é um bocado de coisas, que ninguém sabe direito o que é. Mas tudo indica que ao inspirarmos, algo mais que ar é absorvido pelos pulmões. Que algo mais é este que causa tanta polêmica entre os escritores? Uns dizem que sem inspiração não dá para escrever; outros acham que ela pode até atrapalhar o processo criativo.
Diante da dificuldade de uma definição, partamos para uma conceituação de inspiração no âmbito da música, realizada pela profª Maria Carmen Romero, da Universidade de Taubaté: "Se perguntarmos a um grupo de pessoas qual a condição para um músico compor uma grande sonata, a maioria responderá; inspiração. Negativo. A condição mais importante para um compositor fazer uma grande sonata é: ser um grande compositor. Ao contrário do que tantos julgam - isto é, que a inspiração seria um fenômeno cosntitutivo da condição humana, pontilhando de luzes e milagres 40 mil anos de Historia da Arte - trata-se, na verdade, de um conceito muito moderno. Ela nasce historicamente como um elemento de valorização do artista individual. O individalismo na arte, como se sabe, só surge no Renascimento, sendo mais tarde reprimido no Barroco e no Classicismo, para retornar exasperado no Romantismo, Como é fácil provar, a inspiração, como problema, é um conceito romântico dos séculos XVIII e XIX e está muito longe de toda a dinâmica que presidiu as invenções humanas nos últimos milênios em todos os setores. Isso porque se trata de um fenômeno puramente pessoal.
O dicionário Aurélio diz apenas que é "(1) o ato de inspirar(se) ou de ser inspirado; (2) Ato de introuzir o ar nos pulmões, de inspirar; (3) Qualquer estímulo ao pensamento ou à atividade criadora; (4) Por extensão, o resultado de uma atividade inspiradora; (5) Pessoa ou coisa que inspira: inspirador. (6) Entusiasmo poético; estro. (7) Em termos teológicos, significa uma moção divina, que segundo a crença cristã, teria dirigido os autores dos livros da Bíblia".
Quanto a origem da palavra, no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, não consta; mas consta inspirar:
vb. 'introduzir ar nos pulmões, incutir, infundir, fazer penetrar no ânimo' / xv, insperar xv / Do lat. inspirãre // inspiração / xvi, spiraçõ xiv / Do lat. inspirãtio -õnis // inspirador xvi // inspirativo 1881 // inspiratório 1844. Cp. inspirar, espirar.
Inspira+dor * Inspira+ação
Na Enciclopédia Mirador, curiosamente, a palavra INSPIRAÇÃO não consta. Mas aparece no índice analíticpo a palavra inspiracionismo remetendo para crítica. Nos diversos conceitos e histórico da palavra crítica, chegamos na transição do século XVIII, onde se lê
"Ao lado do sensualismo é decisivo o papel desempenhado pelo inspiracionismo, resultante da redescoberta de Longino. Ela se iniciara já em 1554, com a edição de Robortello, mas só alcançou a divulgação necessária com a tradução de Boileau, em 1674. A influência que Longino exerceu divide-se em duas fases distintas que quase se parece tratar de dois autores diferentes. O primeiro Longino é aquele cuja idéia de sublime aí se traduz na préciosité do estilo, na afetação grandiloquente da formosura. O sublime aí se identificava com o grandioso e se ajustava o hino à natureza, entoado pelo sensualismo. No segundo Longino, o realce passa à emoção e à secreta inspiração do poeta. A emoção do sublime - ékstasis - se converte no 'entusiasmo' ou 'paixão', espécie de emoção racional erguida contra a mesquinhez".
Vejamos o que diz o Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, de Mario Ferreira dos Santos, um grande filósofo brasileiro, infelizmente, desconhecido do grande público.
"Ao examinarmos a aspiração, vimos que quando o espírito humano, no seu dinamismo, dirige-se aos valores puros, como liberdade, justiça, a aspiração torna-se inspiração. Na inspiração, a imaginação criadora dirige-se para a realização de novas formas de cultura, sobre qualquer dos aspectos que as consideremos. Há, na inspiração aparentes acasos, que parecem dirigidos para uma finalidade, embora siga através de fluxos e refluxos. No pensamento de todos os povos, atribue-se sempre a inspiração à influência de um numem, que o concede ao homem. Entretanto, o estudo da emergência nos permite compreender que já possui o homem, em sua inteligência, suficiente poder para realizar algo de novo e de criador, sem que tal afirmativa implique a negação ou a desvalorização das investigações que se processam, quanto à interferência de poderes superiores extra-humanos.
Fala-se muito na inspiração dos artistas. Esse misterioso poder de criação. espontâneo, que parece como se uma potência exterior viesse em auxílio daquele.
Muitos artistas realizam obras num estado de mínima consciência, apercebendo-se do que fizeram quase ao fim ou ao término do que encetaram. Alguns chegam a afirmar um caráter de mediunidade, como se o artista não passasse de um instrumento dócil às mãos de um ser misterioso que o guiasse na realização da obra, como Mozart, que ouvia os seus concertos, num só ato, escrevendo-os, depois, por memorização. Se muitos homens de ciência e artistas realizam seus trabalhos através de um hercúleo esforço de meditação, de reflexão, de análise meticulosa, outros, porém, são de uma espontaneidade extraordinária, e suas obras surgem como por encanto, e são realizadas como por um esforço único, de um único impulso.
Tais fatos, embora assinaláveis, não têm encontrado na psicologia uma explicação satisfatória. A complexidade com que se revestem, as características individuais, que os cercam, impedem um estudo como psicologicamente se deveria fazer.
Ultrapassam os métodos puramente extensistas da ciência e penetram em terrenos onde as medidas carecem de significação.
As genialidades possuem esse poder de criação quase espontâneo, embora se encontrem, entre os homens de gênio, aqueles que realizam obras através de um grande esforço reflexivo.
No entanto, são sempre assistidos desse poder criador extraordinário, num grau bem desenvolvido. Suas intuições criadoras são, depois de esboçadas espontâneamente, examinadas friamente para o acabamento final, mas se apresentam ao espírito num impulso único, surgem como se fossem ditadas por potências misteriosas. É natural que a Psicologia não possa ainda oferecer uma explicação satisfatória neste terreno.
No século XIX, estiveram os psicólogos mais preocupados com os aspectos fisiológicos da Psicologia. Não eram examinados os aspectos profundos do subconsciente e do inconsciente. Nestes casos, todas as regras dadas pelos associacionistas malogram. Aqui não há o automatismo, porque aqui há uma autonomia criadora.
Não é apenas nas obras dos artistas que se dão tais casos. Também na obra dos filósofos e dos cientistas há muito de imaginação criadora. É partindo dela que muitas grandes descobertas foram iniciadas".
Em termos religiosos, a palavra tem um significado preciso, é o "sopro de Deus à humanidade". Mas o Dicionário Bíblico Universal (p.198) acrescenta o conceito de "inspiração verbal" e "inspiração plenária", definindo a inspiração conforme segue:
"Esta palavra deriva-se de in spiro, "soprar para dentro, insuflar", aplicando-se na Escritura não só a Deus, como Autor da inteligência do homem (Jó 32.8), mas também à própria Escritura, como "inspirada por Deus" (2Tm 3.16). Nesta última passagem claramente se acha designada uma certa ação de Deus, com o fim de transmitir ao homem os Seus pensamentos. Ainda que se fale primeiramente de inspiração no Antigo Testamento, pode o termo retamente aplicar-se ao Novo Testamento, como sendo este livro considerado também como Escritura. A palavra, significando "sopro de Deus", indica aquela primária e fundamental qualidade que dá à Escritura o seu caráter de autoridade sobre a vida espiritual, e torna as suas lições proveitosas nos vários aspectos da necessidade humana.
O que é a inspiração, pode melhor inferir-se da própria reivindicação da Escritura. Os profetas do Antigo Testamento afirmam falar segundo a mensagem que Deus lhes deu. O Novo Testamento requer para o Antigo Testamento esta qualidade de autoridade divina. De harmonia com isto, fala-se em toda parte da Escritura, como sendo a "Palavra de Deus". Tais designações como "as Escrituras" e "os oráculos de Deus" (Rm 3.2). havendo também frases como estas - "esta escrito" - claramente mostram a sua proveniência divina. Além disso, são atribuídas as palavras da Escritura a Deus como seu Autor (Mt 1.22; At 13.34), ou ao Espírito Santo (At 1.16; Hb 3.7); e a respeito dos escritores se diz que eles falavam pelo Espírito Santo (Mt 2.15). E deste modo as própria palavras da Escritura são considerada de autoridade divina (Jo 10.34,35; Gl 34.16), e as suas doutrinas são designadas para a direção espiritual e temporal da humanidade em todos os tempos (Rm 15.4; 2Tm 3.16). O apóstolo Paulo reclama para as suas palavras uma autoridade igual à do Antigo Testamento como vindas de Deus; e semelhante coloca a sua mensagem ao nível das mais antigas Escrituras.
A garantia de ter esta doutrina da Sagrada Escrituras autoridade divina está no ensinamento a respeito do ES, que foi prometido aos discípulos de Cristo como seu Mestre e Guia (Jo 14.26; 16.13).
É melhor usar o termo "revelação" quando se tratar, propriamente, da matéria da mensagem, e a palavra "inspiração" quando quisermos falar do método pelo qual foi revelada a mensagem. Por inspiração da Escritura nós compreendemos a comunicação da verdade divina, que de certo modo é única em grau e qualidade. Como os apóstolos eram inspirados para ensinar de viva voz, não podemos pensar que não tivessem sido inspirados quando tinham de escrever. Por conseqüência, podemos considerar a inspiração como especial dom do Espírito Santo, pelo qual os profetas do Antigo Testamento, e os apóstolos e seus companheiros no Novo Testamento, transmitiram a revelação de Deus, como eles a receberam.
É claro o fato de uma única inspiração das Escrituras. Mas até onde se estende esta inspiração? Revelação é a manifestação dos pensamentos de Deus para a direção da vida do homem. Se a vontade divina tem de ser conhecida, e transmitida às gerações, deve ser corporificada em palavras; e para se estar certo dos pensamentos, é preciso que estejamos certos das palavras. A inspiração deve, portanto, estender-se à linguagem.
Em 2Pe 1.21, os homens, e em 2Tm 3.16, a Escritura, diz-se serem inspirados; na verdade, não poderíamos ficar satisfeitos, considerando inspirados os homens, e não os seus escritos, porque a inspiração pessoal deve, necessariamente, exprimir-se pela escrita, se é certo que tem de perpetuar-se. A vida estender-se por toda parte do corpo, e não podemos realmente fazer distinção entre o espírito e a forma, entre a substância e o molde.
Todavia, a expressão "inspiração verbal" precisa ser cuidadosamente determinada contra qualquer noção errônea. A possibilidade de haver má compreensão faz que muitos cristãos prefiram a frase "inspiração plenária". A inspiração verbal não significa um ditado mecânico, como se os escritores fossem instrumentos meramente passivos: ditar não é inspirar. A inspiração verbal estabelece até que ponto vai a inspiração, estendendo-se tanto à forma como à substância. Diz-nos o "que é", e não "como é", não nos sendo explicado o método da operação do Espírito Santo, mas somente nos é dado conhecer o resultado. Deus fez uso das características natural de cada escritor, e por um ato especial do Espírito Santo, habilitou-os a comunicar ao homem, por meio da escrita, a Sua divina vontade. Observa-se esta associação do divino e do humano nas passagens como estas: Mt 1.22; 2.15; At 1.16; 3.18; 4.25. A operação do Espírito Santo junta-se com a atividade mental do escritor, operando por meio dele e guiando-o. Ainda que não saibamos explicar o modo de tal operação, conhecemos os seus resultados. Certamente esta maneira de ver a respeito da inspiração refere-se somente aos escritos, como eles saíram das mãos dos escritores originais. Os manuscritos originais não foram preservados e por isso precisamos do auxílio de um minucioso criticismo textual de tal maneira que possamos aproximar-nos tanto quanto possível do tempo e das circunstância dos autógrafos.
Esta maneira de compreender a inspiração pode ser justificada pelas seguintes considerações:
a) O uso atual da Bíblia, na vida e obra da Igreja cristã, sendo acentuada a sua autoridade no ensinamento verbal.
b) Uma ponderada e sábia exegese em todos os tempos mas especialmente em nossos dias.
c) O recurso à Bíblia em todos os assuntos de controvérsia.
d) A crença sobre este ponto nos tempos apostólicos e sub-apostólicos.
e) O uso do Antigo Testamento pelos escritores do Novo Testamento, notando-se 284 citações, e frases como "está escrito".
f) Jesus Cristo acha apoio no Novo Testamento para suas considerações, como em Jo 10.30-36.
g) Os profetas e os apóstolos consideravam-se homens inspirados (2Sm 23.2; Jr 36.4-8; 1Co 2.13; 14.37).
É impossível limitar a inspiração à doutrina, e considerar a história como sujeita a circunstâncias comuns, pois que doutrina e história estão unidas de tal modo que não podem separar-se. A própria revelação de Cristo é a de uma pessoa histórica, sendo inseparável os fatos e as doutrinas que lhe dizem respeito. E diz o Novo Testamento que a história do Antigo Testamento é inspirada e escrita para nossa instrução (Rm 4.23,24; 15.4; 1Co 10.6,11).
Sendo a Bíblia uma autoridade para nós, assim a devemos considerar, seja qual tenha sido o método da inspiração: porquanto o valor da autoridade realmente independente de todas as particularidades sobre o modo como foi inspirada. É auxiliado o estudo da inspiração pela analogia entre o Verbo encarnado e a Palavra escrita: ambos são divinos, e também são humanos, embora, em cada caso, é impossível dizer onde termina o divino e começa o humano. Ambos os elementos ali estão, reais e inseparáveis, de maneira que, quer se trate de Cristo ou da Bíblia, podemos dizer que tudo é perfeitamente humano e tudo é absolutamente divino".
Ainda na área religiosa, encontramos uma explanação da palavra sob a perspectiva espírita. Segundo os adeptos de Allan Kardec, as pessoas fazem um certa confusão no significado das palavras "inspiração" e "intuição", as quais têm sentido e efeitos bem diferenciados. Os espíritas, conforme esclarece Francisco Aranda Gabilan, definem do seguinte modo:
Determinadas matérias tratadas na exposição da Doutrina Espírita muitas vezes perecem sem importância, mas nunca será demais saber o exato sentido e praticar a correta aplicação dos termos.
É o que acontece com a aplicação das expressões INTUIÇÃO e INSPIRAÇÃO: há alguns companheiros da exposição doutrinária, seja na área do ensino, seja na da divulgação, que acham (e, o que pior, passam adiante) não haver nenhuma diferença entre ambas.
Mas, com licença de suas luzes, há diferença - e muita! São coisas diferentes, com diferentes sentidos e de efeitos diferentes.
Vejamos, não com nossas próprias convicções - pois que, como diz o ditado popular, "santo de casa não faz milagres" - mas trazendo o quanto nos ensinam os entendidos e doutrinadores.
INSPIRAÇÃO:
Uma definição leiga: "Inspiração - sugestão, insinuação, conselho", ou "Inspirar - incutir, infundir, insuflar, introduzir" (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Vol. 2 Ed. Enciclopédia Britânica). Atende-se para a etimologia (origem) dessa palavra, que vem de "inspirare" ou "introduzir ar", quase o mesmo que assoprar.
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Agora, a doutrina: "A inspiração é a equipe dos pensamentos alheios que aceitamos ou procuramos" (Seara dos Médiuns, "Faixas", Emmanuel. F.C. Xavier, FEB - 4ª edição, pg. 125, discorrendo sobre o capítulo "Evocações" do O Livro dos Médiuns).
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Léon Denis (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, FEB, 1993, cap. 21, pg. 334), sobre a inspiração: "uma das formas empregadas pelos habitantes do mundo invisível para nos transmitirem seus avisos, suas instruções (...). Pela mediunidade o Espírito infunde suas idéias no entendimento do transmissor".
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"É o recebimento espontâneo de idéias, pensamentos, concepções, provindo de Espíritos..." (Dicionário Enciclopédico de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, Ed. Bels. 1976, 3ª ed., João Teixeira de Paula).
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Ressalte-se: é espontâneo, loro imediato e de bom grado.
Em conclusão claríssima: Inspiração é a transmissão dos pensamentos e mensagens de uma mente para outra, "um assopro" do desencarnado para que o encarnado possa livremente dispor de uma determinada figura, de uma idéia, de um quadro mental.
INTUIÇÃO:
Consulte-se Platão, que fundamenta a intuição na preexistência (reencarnações anteriores), segundo a síntese trazida por Adolfo Bezerra de Menezes, em A Loucura sob novo prisma: Estudo Psiquíco-fisiológico, FEB, 8ª Ed. - 1993, cap. 1, pg 19: "Antes de virmos a esta vida, já tivemos outras, e no tempo intermediário, que passamos no mundo dos Espíritos, adquirimos o conhecimento das grandezas a que somos destinados; donde essa reminiscência, a que chamamos intuição de um futuro, que mal entrevemos, envoltos no véu da carne".
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Segundo Ney Lobo, em
Filosofia espírita da educação e suas consequências pedagógicas (Ed. FEB, 1993, pg. 92), "A intuição é instrumento de prospecção do fundo
anímico do educando, das camadas sedimentares de perfeições e imperfeições acumuladas nas existências anteriores".
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No livro Allan Kardec, Zêus Wantuil (ex-presidente da FEB), cuidando da mediunidade atribuída ao Codificador, afirma que "a intuição é a fonte de todos os nossos conhecimentos(...)", referindo-se aos conhecimentos que o Ser angaria ao largo de todas as suas experiências anteriores (cap. 3, pg. 41).
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Dentre as várias abordagens do Livro dos Espíritos sobre a intuição, colhemos apenas a contida na questão nº 415, quando Kardec pergunta aos Espíritos qual a utilidade das visitas feitas durante o sono, se não nos lembramos sempre delas: "De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas idéias que vos vem espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São idéias que adquiristes nessas confabulações". (46ª edição, FEB, tradução de Guillon Ribeiro).
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E, afinal, o próprio Kardec, em A Gênese, Cap. XI, Doutrina dos Anjos Decaídos, item 43 (20ª ed. FEB, idem) falando das emigrações e imigrações dos seres espirituais ao largo dos tempos, afirma que alguns "são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram (...)". E, pouquinho mais adiante, no mesmo item, Kardec é categórico: "A vaga lembrança intuitiva que guardam da terra donde vieram é como uma longínqua miragem a lhes recordar o que perderam por culpa própria". Com o mesmo sentido dizem os espíritos, na questão 393, sobre a "lembrança" (pela intuição) que os Espíritos têm de suas faltas passadas ao reencarnar.
Nada mais claro resta: A intuição é o conjunto de conhecimentos próprios adquiridos ao largo das múltiplas experiências do Ser, que lhe aflora à mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada, pois que tais conhecimentos pertencem ao seu universo peculiar e subjetivo de conhecimentos.
Portanto amigos, quando formos pedir "ajuda" aos Espíritos, peçamos que eles nos inspirem bons pensamentos, não que nos "intuam"; quanto à intuição, é melhor pedirmos a Deus (e até aos Espíritos, por que não?!) que nos ajude a organizar nossos próprios conhecimentos para usarmos no momento preciso e, sobretudo, em favor do esclarecimento do próximo. Ou melhor ainda, ouvir a sábia orientação de Emmanuel, no livro O Consolador, questão 122, quando lhe foi perguntado "que se deve fazer para o desenvolvimento da intuição", respondendo: "O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos".
E assim concluimos, por enquanto, a parte referente a conceituação. A questão continua aberta no aguardo das contribuições que os leitores considerarem pertinentes.