"São meios que permitem a um escritor não se calar. Eu escrevo 'em' jornais, não 'para' jornais... É questão de esclarecer. Eu jamais poderia escrever num jornal fascista. Jamais poderia escrever num jornal católico. Há na Itália uma tradição mais ou menos vacilante de jornalismo 'leigo' liberal: é dela que me valho para me exprimir. É uma tradição que permite certa amplitude de opiniões. Permite, por exemplo, a Franco Fortini escrever no Corriere dela Sera... Há quarenta anos eu escrevia até em jornais fascistas, e nem por isso era fascista. Acho que o moralismo é uma coisa muito respeitável, mas a personalidade é mais importante que a moral. A certo nível de personalidade - não digo isso por vaidade, não falo por mim só - podemos dar-nos ao luxo de escrever até em jornais não inteiramente homogêneos com o que somos. Escrever no jornais que existem. Enfim, é preciso ter força bastante para servir-se dos jornais e não servir a eles.
Fonte: AJELLO, Nello. Moravia: entrevista sobre o escritor incômodo. São Paulo: Civ. Brasileira, 1986.
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