“Com a idade de 16 anos, quando eu começava a escrever meu romance, decidi que daí em diante, escreveria todos os dias, três horas a cada manhã. A tarde e a noite deviam ser consagradas ao que eu chamava então “a vida” e que era, na realidade, o momento em que eu iria “agir”. Essa decisão tão precoce provocou em mim, ao longo dos anos, uma espécie de costume fisiológico. Depois de tanto tempo, eu escrevo a cada manhã da mesma forma que durmo a cada noite e que como a cada dia: a escrita acabou se tornando parte integrante de meu ritmo biológico. Ritmo biológico colocado à parte, quando escrevo, eu procuro sobretudo resolver problemas literários, isto é, todos os problemas, porque acredito que a literatura é tudo. Em todo caso, eu avanço como o asno da fábula que segue a cenoura diante de seu nariz. Por esta razão, quando me perguntam por que escrevo, eu respondo habitualmente: eu escrevo para saber por que escrevo”.
Fonte: Leia. São Paulo, setembro de 1985.
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