A atividade profissional é independente da atividade literária. Existem grandes escritores que foram jornalistas, como também existem grandes escritores que foram médicos, engenheiros, matemáticos, professores etc. O jornalismo, tal como o entendemos hoje (que é bem diferente da atividade exercida na época do João do Rio), é um trabalho que envolve a escrita, mas não é um trabalho necessariamente de escritor. Hoje, o jornalismo é um trabalho técnico e nada literário, principalmente se tomarmos o escritor como alguém que trabalha com literatura, com criação e crítica literária. Existem grandes jornalistas, como Elio Gaspari, Paulo Markun, Gabriel Priolli Neto, Ricardo Kotscho, Claudio Júlio Tognolli etc. Eles não exercem uma atividade ligada à criação literária e, sim, são pessoas que trabalham com a informação. Há nos textos deles certamente muita coisa emprestada da literatura, assim como há na literatura muita coisa emprestada do jornalismo. Ao aspirante a escritor, o fato de ser jornalista não lhe garante talento, nem qualidade literária... O que é o escritor. É quem escreve? Então, nesse caso, um físico que escreva uma teoria, um astrônomo que relate os resultados de sua pesquisa também seriam escritores... o escritor é um artista que trabalha artisticamente com as palavras (assim como o pintor trabalha com tintas). Nesse caso, o jornalista não seria um escritor. Vejo o jornalismo como um ofício para o qual é preciso ter certa vocação, como, por exemplo, interesse pelos assuntos variados de uma pauta diária, que envolve política, problemas dacidade, saúde etc. Hoje, como no passado, nem todo jornalista precisa ter um texto maravilhoso... Agora, sem dúvida, jornalismo e literatura andam de mãos dadas há muitos anos, basta lembrar que o romance enquanto gênero literário nasceu dentro dos jornais. Há muita troca de experiência entre jornalismo e literatura. Há questão da vocação é, para mim, bem complicada. Digamos que o sujeito tem um interesse pelo jornalismo ou pela literatura".