"No campo da escrita, em tudo, há interdependência. Às vezes há prosas que são pura poesia e poemas cheios de prosa — segundo Murilo "a poesia sopra onde quer". Isto também se dá em relação à letra de música, mas precisamos nos ater a um equilíbrio delicado: nem todo poema funciona numa música. A letra de música tem, naturalmente, uma estrutura flexível para aceitar a melodia com sucesso. Porém, no momento em que esta se recolhe e as palavras se desnudam, se mostram — na pauta em branco sem a escora da música — então é que se vê quem tem garrafa vazia para vender. O olhar recorrente na página em branco, onde qualquer rasura tem toque de arte final — como já disse o poeta Armando Freitas Filho — é terrivelmente cruel e só o verdadeiro poema se garante. Não podemos, entretanto, esquecer que desde Noel e Orestes, passando por Vinicius até Paulo Cesar Pinheiro e Aldir Blanc — para não citar Caetano e Chico — o Brasil é um celeiro de bons letristas. E seguindo a máxima de Murilo, posso afirmar que há letras extremamente poéticas e poemas (às vezes até bastante longos) que têm muitos versos, mas nem um tostão de poesia".
Fonte: www.jornaldepoesia.jor.br (04/03/2013)