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Política
Lúcia Miguel-Pereira

"Ora, o indivíduo é muito importante e não morre, ao passo que o fato social é por excelência mutável e, portanto, envelhece, caduca. Tomemos, por exemplo, uma tragédia de Shakespeare e veremos que, nela, o que é baseado nas paixões humanas não perdeu um milímetro sequer do interesse, enquan­to que o que é puramente reflexo dos costumes da época virou História... Durante as grandes crises políticas, como a que agora atravessamos, é natural que os assuntos ditos sociais ganhem maior importância e venham à baila, freqüentemente, nas con­versas, nos discursos, nos artigos de jornal, e, portanto, também na Literatura. Nas épocas de equilíbrio, porém, é indiscutível que a primazia tem cabido sempre e caberá, por certo, no futuro, ao estudo do indivíduo. Está claro que os sofrimentos do povo não podem deixar de interessar no máximo ao escritor, porque povo somos todos nós, e não há dúvida que os problemas angus­tiantes com que se debatem as classes menos favorecidas podem fornecer ao romancista e ao poeta temas para obras de caráter social. Por outro lado, o homem, considerado isoladamente, é um eterno mistério e não pode haver nada mais fascinante do que procurar desvendar esse mistério".

Fonte: SENNA, Homero. República das letras, 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996

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