"Há pouco tempo fui procurar um psiquiatra, meu amigo, que me diagnosticou uma depressão profundíssima, explicando: você começou a escrever poesia desde os 13 anos de idade - ele tinha um jornal com uma ficha minha - com um poema sobre os pobres que pediam esmolas na escadaria duma igreja, enquanto os ricos fiéis nem olhavam para ele; desde então nunca você deixou de fazer poesia; foi para o estrangeiro, viveu fora de casa, tomou parte nas lutas políticas deste país, mas nunca deixou de fazer poesia. Em determinado momento, continua o médico, em 1981, você parou de uma vez. Na medida em que não botou no papel aquilo que estava dentro de você, que se acumulava dentro de você, você entrou em depressão. Você só tem um meio de superar a crise: voltar ao hábito de sentar à mesa na sua casa, à noite, e escrever qualquer coisa, continuar seu trabalho intelectual. Você sempre diz que escreve, ama, luta para vencer a morte, a morte que está em você, nos outros, no mundo. De repente, perde essa idéia de morte, não luta mais, não escreve mais. Mas você identifica a sua vida com a idéia de combater a morte e a combate na medida em que escreve. Não escrever, eis a causa da tua depressão. Aí voltei a passar para o papel os meus pensamentos, os meus versos".
Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumenica Edittici, 1994