“O roteiro reporta-se imediatamente à imagem e como ela se move. Em todos os filmes de grande êxito, os personagens não têm nada a ver com a realidade. Por exemplo, um dos filmes que eu mais gostei na minha vida foi Crime e castigo, na versão russa. Mesmo aquelas figuras miseráveis, terríveis que aparecem não têm nada a ver com a realidade, aquilo é uma composição embora deixe ver o gênio que é o Dostoievski. É diferente no sentido em que, quando escrevemos, podemos fazer uma fotografia do real e quando aquilo é transformado numa obra de imagem é, de fato, uma coisa diferente até por uma questão de tempo. Ao escrever um romance é como compor uma sinfonia com muitos andamentos, pode-se contar com uma orquestra infinita. Num roteiro não, é tudo muito mais conciso, tem de haver uma sobriedade e um equilíbrio de forças diferentes. Eu gostaria mesmo era de ser roteirista, mas agora já não é hora para começar. É que acho muito importante o diálogo no cinema. Há uns extraordinários. Eu vejo um filme dos anos 40, 50 e logo vejo que há um escritor por trás, nem que seja de gângsteres. Ao mesmo tempo há o humor, a rapidez da frase e a mensagem. Houve uma época de grandes roteiristas, depois foi ultrapassada pela onda dos efeitos especiais, mas agora, mesmo nos filmes americanos, vejo que volta a importância do diálogo”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/1996. p. D1 (Cristina R. Duran)
“O cinema é uma forma de respirar da literatura. Bergman queria ser escritor, mas a linguagem literária é outra. A linguagem cinematográfica é puramente emotiva e mais sintética. Mostra, mas não demonstra, ilumina, mas não informa”.
Fonte: Folha de São Paulo,18/06/2000 - João Almino
|