“Francamente, por que você pensa que eu escrevo? Para desconcertar o maior número possível de pessoas com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um fogo civilizador. Para ganhar minha vida e figurar no Larousse com o mesmo realismo utópico que aquele aplicado à Madame de Pompadour. Ela que era pequena e miúda e é apresentada como “grande e bem feita”. O renome de uma pessoa perturba o julgamento, da mesma forma que o amor fabuloso e o erotismo pedante. Eu escrevo para tirar as ilusões com mérito, o que é uma forma de chamar a atenção – dos outros com virtude. Depois, eu vou explicar por que os portugueses têm uma certa resistência em responder questões como esta. Nós somos um povo muito velho e que não considera o dinamismo profissional como parte da cultura. A pobreza não nos obriga a ser obtusos, nem obedecer a modelos da sensibilidade pueril”.

Fonte: Leia. São Paulo,  setembro, 1985.