“Não queremos nos aborrecer com problemas sérios levantados por um livro como Crime e Castigo. Questões como: alguém tem o direito de matar? Um homem jovem, de inteligência superior tem o direito de matar duas velhas? E se ele estiver morrendo de fome, se sua família estiver em desgraça e com problemas? E assim por diante. Bem, essas são perguntas sérias. Não vejo esse tipo de questionamento em filmes, pelo menos não com freqüência. Talvez até certo ponto. Mas além desse ponto, muito raramente. Portanto, ainda temos necessidade desse tipo de refinamento e desse tipo de inteligência culta que só podem surgir da leitura de certos textos. E se você estiver a fim de se livrar desses textos, existe, possivelmente, algo errado na sua apreciação do todo... Na verdade os números não provam muita coisa (o numeroso público do cinema em relação à literatura). Não é preciso ir aonde os números são maiores. É preciso ir aonde as mentes são treinadas e adaptaram-se a esses trabalhos de literatura altamente refinados. Se aprender a lê-los, nunca mais ficará satisfeito com um filme C. Não sei o que o futuro nos reserva. Talvez a literatura seja ultrapassada e surjam novas e melhores formas de arte em seu lugar. Se isso acontecer, para satisfação geral, e se o mesmo trabalho for realizado por meios diferentes, ninguém fará objeção. Porém, não me parece que os filmes tenham esse efeito sobre as pessoas”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2000 - Thomas Petzinger Jr. |