"Memórias do subdesenvolvimento saiu melhor do que eu esperava. Quis realizar este filme desde o momento em que li a novela homônima de Edmundo Desnoes. O livro é muito cinematográfico. A novela constitui-se num longo monólogo interior do personagem Sérgio em conflito com a nova realidade que se instala em seu país, movida pela Revolução Cubana. Junto com Desnoes, estudei outros níveis de leituracinematográfica do texto. O resultado foi um filme intelectualmente muito complicado. No livro dá-se o ponto de vista do personagem; no filme, dou também o meu ponto de vista e privilegio o ambiente que rodeia Sérgio. Mesmo assim, Memórias teve ótima acolhida, tanto em Cuba, quanto nos EUA e Europa. Foi mostrado no Festival de Karlovy-Vary, na Tchecoslováquia, e mereceu críticas nos mais importantes jornais do mundo... Um êxito que, confesso, nunca esperei, e me alegrou muito... Meu segundo longa, Las doce sillas, baseou-se numa novela de Ilya Ilf e Eugene Petrov. O terceiro, Cumbite, baseou-se em novela haitiana de Jacques Roumain (Os governadores de orvalho)... Memórias do subdesenvolvimento e Cartas al parque buscaram sua matéria-prima na literatura. E meu novo projeto é resultado de mais uma incursão pela literatura".
Fonte: CAETANO, Maria do Rosário. Cineastas latino-americanos: entrevistas e filmes. São Paulo: Estação Liberdade, 1997.
|