"O que existe é a simples relação de alguém que refaz com as palavras, com seu poder de invenção, o que está vendo. Um escritor, um poeta, inventa as paisagem, isto é, nutre-se daquilo que vê, mas depois inventa. É um criador. Não estou dizendo que seja Deus, porque juro perante todos os meus filhos que eu não sou Deus. Não sei se vocês querem acreditar nisso, mas confio em mim. Assim, todas as vezes que vejo uma paisagem e depois adormeço, e aí passam dois meses, é quando ela renasce à frente de meus olhos com uma forma provavelmente diferente, mas com a mesma porção de ar, de árvores, de magia. Isso é quando tudo corre bem, quando consigo... É preciso dizer que o roteiro pode ter uma grande influência. Mas é bom esclarecer as coisas. Para os grandes filmes, o autor é o diretor. Porque, naturalmente, é o diretor quem dá o seu estilo às coisas que lê. Aí temos imagens. O filme é imagem, não palavras. Existem algumas comédias das quais poderíamos dizer que também o autor principal é o roteirista. E musicais sobre os quais poderíamos dizer que o autor é um músico, de certo modo... Nunca pensei em dirigir porque eu sou prisioneiro da palavra. E não me sinto bem em traí-la."

Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/1996 - Maria Andrea Muncini