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Como escreve?
Aldous Huxley

“Trabalho com regularidade pela manhã e, depois, um pouquinho antes do jantar. Não sou dos que trabalham à noite. À noite, prefiro ler. Em geral, trabalho quatro ou cinco horas por dia. Trabalho tanto quanto posso, até sentir que estou ficando rançoso. Às vezes, quando empaco, ponho-me a ler - ficção, psicologia ou história, não importa muito o que - não para tomar emprestados idéias ou materiais, mas simplesmente para recomeçar de novo. Quase qualquer coisa fará esse truque... Em geral, escrevo tudo muitas vezes. Todas as minhas idéias são derivadas. E corrijo muito cada página, ou as reescrevo, à medida que prossigo... Não, não tenho livro de anotações. Tenho, ocasionalmente, durante breves períodos, conservado diários, mas sou muito preguiçoso e, em geral, não o faço. Dever-se-ia ter cadernos de anotações, penso eu, mas eu não tenho... Escrevo um capítulo por vez, descobrindo meu caminho à medida que prossigo. Quando começo, só sei muito vagamente o que irá acontecer. Tenho apenas uma idéia geral e, então, a coisa se desenvolve, enquanto escrevo. Não raro - e isso já me aconteceu mais de uma vez - escrevo muito e, de repente, vejo que a coisa não vai, e tenho de jogar tudo fora. Gosto de já ter terminado um capítulo antes de começar o próximo. Mas jamais estou inteiramente certo quanto ao que irá ocorrer no capítulo seguinte, enquanto não o escrevo. As coisas me vêm em gotas e, quando isto acontece, tenho de trabalhar arduamente, para convertê-las em algo concreto... Escrever é uma ocupação bastante absorvente  e, não raro, exaustiva. Mas sempre me considerei muito feliz por poder ganhar a vida entregando-me a algo que me agrada fazer. Pouquíssimas pessoas podem fazê-lo”.

Fonte: COWLEY, Malcom. Escritores em ação: As famosas entrevistas à Paris Review. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

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