“Eu nunca preparo uma trama. Não consigo fazer isso. Com frequência, pensava durante horas, segurava a cabeça entre as mãos, fechava os olhos e quase ficava doente por causa disso. Mas de nada adiantava. No final, eu desisti. O que faço é escrever três tipos de estudos para cada romance. O primeiro eu chamo de esboço, isto é, nele, eu determino a idéia principal do livro e os elementos necessários para desenvolver essa idéia. Também estabeleço certas relações lógicas entre uma sequência de fatos e outra. O dossiê seguinte contém um estudo de cada um dos personagens. Eu me aprofundo ainda mais nos personagens principais. Pesquiso o caráter tanto do pai quanto da mãe, suas vidas, a influência de suas relações no temperamento do filho. A forma como este foi educado, os tempos de escola, o ambiente e os conhecidos até a hora em que ele é apresentado no meu livro. Como vê, portanto, eu me aproximo da realidade tanto quanto possível e levo em consideração, até mesmo, a aparência pessoal do personagem, sua saúde, hereditariedade. Minha terceira preocupação é o estudo do ambiente onde pretendo colocar meus personagens, o lugar onde certas cenas devem acontecer. Eu pesquiso as maneiras, os hábitos, o caráter, a língua e mesmo as gírias dos habitantes do lugar. Eu faço esboços a lápis com frequência, tiro medidas de lugares e imagino a exata disposição da mobília. No final, eu sei como são esses lugares de dia e de noite. Depois de reunir todo esse material, eu trabalho toda manhã e não escrevo mais do que três páginas por dia...
Eu trabalho como um matemático. Antes de começar eu já sei em quantos capítulos eu vou dividir o romance. As partes descritivas têm um espaço definido e, se forem muito longas, eu as termino em outro capítulo. Também tento descansar a cabeça do leitor, ou remover um pouco a tensão causada por uma passagem muito longa e agitada, entremeando algo que distraia a atenção por um certo tempo. Finalmente, repito, não tenho nenhuma trama decidida por antecipação. No inicio de m capítulo, eu não sei como ele vai terminar. As situações devem seguir uma sequência lógica e isso é tudo."
Fonte: The Idler, junho de 1893. Entrevistador: V.R. Mooney (Extraido de A arte da entrevista, organizado por Fábio Altman. S.Paulo: Scritta. 1995.)
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