"Realmente passa por muitas fases de elaboração, sobretudo porque quando começo não sei como vai continuar; simplesmente tenho o ponto de partida, nada mais que isso. É um núcleo que começa a crescer, a tomar uma grande força dentro de mim. Quando comecei a escrever Mulher no espelho, me sente e escrevi: '... e vou começar a história'. Eu só sabia que ia falar sobre o problema de uma mulher reprimida. Comecei a escrever e tinha uma grande curiosidade de saber o que ia acontecer na página seguinte, eu mesma não sabia. Fiquei completamente dominada pela personagem, perdia o sono, me levantava de noite porque precisava continuar para saber o que ia acontecer. Lembro-me que, numa certa altura, ainda no começo do livro, pensava que ia terminar de certa maneira e aconteceu diferentemente porque a histópria se desenvolveu por si mesma, a personagem me conduziu e conduziu a história. Até o final do livro eu não sabia o que ia acontecer. Esse último romance, o qual espero que seja publicado no próximo ano, As doze cores do vermelho, é a história de uma pintora, e foi construído por fragmentos. Quando comecei a escrever sabia que teria um tempo presente, um tempo passado e um tempo futuro. Uma voz dizia 'eu', outra 'você', outra 'ela' e eu queria uma quarta voz, que seria a do sistema e usaria o tempo infinitivo pessoal. As três vozes eram três colunas diferentes. Eu pretendia fazer 50 capítulos, 100 páginas, mas quando eu estava, mais ou menos no 42º capitulo senti que o livro ia fechar antes do 50º capítulo. Realmente, são 48 capítulos. Bom, primeiro eu fiz as três vozes pessoais. A voz do sistema eu ia fazer depois porque estava recolhendo material de educação de jovens, educação religiosa, textos de Freud ligados à repreensão, de Marx ligado a divisão de classes etc. Quando terminei de fazer as três colunas e ia fazer a quarta percebi que o livro estava pronto. O meu processo, de um modo geral, é assim: o que eu chamo primeira versão é não saber o que vai acontecer; os personagens é que vão conduzindo a história e as vivências porque o meu trabalho é muito em cima de vivências interiores dos personagens. A segunda versão é mais a elaboração do discurso. Esta versão é muito demorada, talvez mais do que a primeira. Às vezes, há uma terceira versão. São pelo menos trêa as versões".
Fonte: RICCINI, Giovanni. Biografia e criação literária. Lauro de Freitas, BA: Livro.com, 2009.
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