"Eu não tenho um método de trabalho. Escrevo quando tenho apetite para expressar-me, para configurar, para penetrar em um campo desconhecido. Mas geralmente trabalho no crepúsculo e à vezes na meia-noite, quando a asma não me deixa dormir, decido ir para uma segunda noite e começo a ver as mãos penetrando na atmosfera da palavra. Podemos dizer que o método cubano de trabalho intelectual é a soma de pequenezas. Todos os dias se escreve um pouco, com apetite, com gosto, com voracidade verbal e ao final de um ano nos espanta que a caixa onde cabia o chapéu gigante da avó está cheia de sinais escritos em mourisco. Com grande surpresa nos aproximamos e é nossa letra. Sempre se viu que os que pretendem fazer de uma só empreitada uma obra literária não se dão bem com o estilo cubano... Claro, faça todos os dias um pouquinho; mas não se mortifique, não enfastie os seus melhores amigos com esses pouquinhos, não os leia por telefone às pobres pessoas que o acompanham na vida, não se exceda. Não seja um tormento para os pobres seres que o acompanham na vida todos os dias".
Fonte: Leia, São Paulo, agosto de 1987.
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