"Meu conselho aos jovens escritores é que eles não queiram viver só dos romances, que isso acaba atrapalhando... Não é uma posição romântica, é prática. Tem um sentido prático absoluto, que vou lhe explicar claramente. O romance deveria ser um espaço de liberdade, porque para que os sonhos possam fluir e para que o inconsciente saia, você precisa... Como dissemos antes, o autor tem que passar pela morte do autor. Você precisa desaparecer e deixar que isso flua. Precisa ser um espaço de liberdade. Então, você já tem, como dissemos, o ruído do mercado, a pressão de aparecer na lista dos mais vendidos, dos best-sellers, de ser vendido e visto. É uma pressão muito forte e é difícil opor-se a ela. É preciso fazer uma espécie de ginástica mental e moral para que isso não influa sobre você. Se, além disso, você ainda acrescentar a hipoteca de sua casa, ter que pagar sua comida com a venda do livro, não dá. Não acredito que você consiga escrever livremente. Se eu demoro, em média, três anos para escrever um livro, se preciso do livro para pagar minhas contas, é melhor então que eu lance uma porcaria em um ano e meio para que me dêem o adiantamento, porque preciso desse dinheiro. Se eu sei que minha vida depende desse livro, talvez eu me pergunte, enquanto escrevo, se o livro vai vender ou não. Devo escrever algo que venda. Isso é inevitável, porque somos humanos, isso é humano. Para evitar isso, é preciso viver de outra coisa. Eu pessoalmente vi como vários bons autores espanhóis se acabaram, se afundaram porque começaram a trabalhar com uma editora que ia pagando, eles iam entregando um livro por ano e fazendo porcarias. Acho que escrever o que você não precisa escrever rouba a sua alma e isso se vê. Esses autores são três casos concretos e se acabaram. Eram autores interessantíssimos aos 25, 26, 27, 30 anos. Vinte anos depois, acabaram-se.
Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura, 04/10/2006
|