“Quando lemos grandes críticos, que nos revelam de maneira mais ou menos genial aspectos de uma obra que já tínhamos lido e cujo alcance não havíamos compreendido, estamos diante de um trabalho que pode ser considerado semelhante ao do criador, idêntico até. Há ali um grande investimento da imaginação, da inteligência etc. As obras de Paul Valéry em relação à poesia são verdadeiras obras de arte. Já no século 19, mas principalmente neste século, a própria criação integrou fortemente uma componente de crítica. Todos os grandes criadores modernos integram no texto a sua própria poética. Se bem lidos, percebe-se que são eles os seus maiores críticos. Lemos Flaubert e percebemos que é muito difícil ultrapassar a acuidade e a profundidade do olhar que ele mesmo dirige sobre o que escreve. O crítico é uma espécie de criador malogrado, mas é de todo modo um criador em potencial e pode inclusive passar de uma coisa a outra. Certas críticas de Roland Barthes são obras literárias. O mesmo se pode dizer de Umberto Eco”.
Fonte: Folha de São Paulo, 11/08/1996 – Bernardo Ajzenberg
|