“Houve, é claro, o que se julgou ser a grande revolução estruturalista. Foi uma fase importante que trouxe alguns elementos de rigor à análise textual. O fato de eu ter trabalhado na Inglaterra tanto tempo – exceto por minha formação jurídica, feita em Portugal, e que aliás eu não uso – fez com que, tal como entre estudiosos anglo-saxônicos, a influência do estruturalismo fosse temperada. Na cultura anglo-saxônica houve várias escolas de abordagem crítica como do Leavis, por exemplo, que foi extremamente importante nesse aspecto. Como tal, o que terá sido na França, e por influência francesa em Portugal, uma aparente revolução, pôde ser recebido e integrado numa outra tradição que já havia, onde tal tipo de análise textual cabia. Por outro lado também, e isto é temperamento meu, desejo de clareza, acho que compete a qualquer escritor – acho que um crítico e um universitário têm de ser um escritor – compete a qualquer escritor ser tão claro quanto pode. É fundamental ser claro. E estou convencido de que a maior parte das vezes a expressão obscura revela menos complexidade intelectual do que limitação. Quem domina uma matéria, é claro. Só quem não domina precisa, no fundo, de esquemas. Essa fase estruturalista foi muito importante, mas estou bem contente que tenha passado. Aconteceu várias vezes que estudantes de Portugal ou do Brasil, que iam a Londres fazer o doutoramento e me procuraram como orientador, apresentavam um esquema, muito elaborado. Eu pedia então: senhores, traduzam-me isto em duas ou três páginas. Muitas vezes não conseguiam. Por terem sido habituados a pensar em termos de esquemas. Mas, se não conseguiam traduzir em linguagem, esse esquema estava sem substância. Não devemos nunca esquecer que, se estamos a estudar literatura, é porque gostamos de literatura. Literatura existe para significar. Ora, um crítico tem de ter a humildade de saber que pode servir de veículo apenas, mas nunca de substituto”.