"Tenho certa desconfiança em relação à capacidade crítica dos escritores. Não posso imaginar bem um congresso em que Sthendal discutisse com Balzac e com Barbey Daurevilly sobre seu método narrativo. Também não creio que trarão muitos subsídios a uma dicussão sobre as vantagens da república liberal diante do antigo regime. Precisamente porque sua contribuição assumiu a forma autônoma, intraduzível, em rigor, a outras linguagens, da ficção ou da autobiografia literária. Também não imagino Proust em polêmica com André Breton, seu companheiro; no entanto, Em busca do tempo perdido é simultâneamente um romance e uma teoria do romance; mas é uma teoria para uso pessoalíssimo do narrador, teoria embutida no texto romanesco, que ajuda a desenvolvê-la ou que contempla seu progresso desde a beira do caminho, com o Narrador convertido em Espectador de seus próprios mecanismos mentais".
Fonte: JOZEF, Bella. Diálogos oblíquos. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves Ed. 1999
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