O que posso dizer é que exercício crítico e mitificação não deveriam andar juntos, embora boa parte dos críticos empregue toda sua vida e energia na construção de mitos. É um processo que vem de longe e termina nas escolas. Os autores de currículos escolares acabam desumanizados, são transformados em pequenos deuses. O resultado disso é que o próprio ato de escrever é sacralizado, quando escrever é uma atividade como qualquer outra. Pessoalmente, fui vítima desse ensino da literatura nas escolas. Tanto que fiz segredo para minha família até as vésperas de eu ser publicado – tinha receio de que me tomassem por pretensioso. Isso sem falar do massacre que a gente sofria nas livrarias. Era eu entrar numa livraria para achar que não teria nada para acrescentar à montanha de coisas que já tinham sido ditas, o que chegava a me levar a pensar em desistir dos meus objetivos literários”.
Fonte: Veja, 30/07/1997 – Mario Sabino |