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Grandes entrevistas

             

  Eugene  O’Neill   

               

Entrevistado por Young Boswell para a New York Tribune, de 24/05/1923. Republicada no livro ALTMAN, Fábio. A arte da entrevista: uma antologia de 1823 aos nossos dias. São Paulo: Scritta, 1995, de onde foi extraída

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Eugene Gladstone O’Neill (1888-1953), teatrólogo norte-americano, nasceu em Nova Iorque, filho de um ator mambembe, ele trocou os estudos pela vida de marinheiro, viajando para a África do Sul e Austrália no convés de um navio. Ao retornar de uma de suas travessias, O’Neill foi vitimado por uma tuberculose e terminou confinado no sanatório. Na cama de um hospital ele começou a escrever suas primeiras peças. Em 1920, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer de sua carreira por Beyond the horizon (Além do horizonte). Outros viriam: Anna Christie (1922), Strange interlude (Estranho interlúdio), de 1928, e A long day’s journey into night (Uma longa jornada noite adentro), de 1957. O’Neill foi o primeiro dramaturgo a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1936.

Eugene O’Neill lidera os dramaturgos sérios das América do Norte de hoje. As suas peças Beyond the horizon e Anna Christie receberam os prêmio Pulitzer em dois anos sucessivos. Seus testos o estão sendo produzidos na Inglaterra, na França e na Alemanha, e são saudados com um enorme entusiasmo. The emperor Jones (O imperador Jones) foi uma experiência pioneira de hipnose da platéia. O’Neill é filho de um ator. Ele foi, numa rápida seqüência, aluno de Princeton, minerador de ouro, marinheiro, ator, poeta, dramaturgo, e tem só 33 anos.

Atualmente nenhum escritor desse pais possui o penetrante sendo de tragédia que se manifesta nas peças de Eugene O’Neill. Uma pessoa disse que ele era super-sensível e mórbido como uma criança, e outra, um crítico acadêmico, disse que sem dúvida ele escrevia com uma veia trágica porque era jovem. Quem quer que estivesse certo, Young Boswell ficou curioso em descobrir a origem dessa característica trágica incisiva e inevitável, mas achou que o jovem dramaturgo ficou reticente quando o assunto foi mencionado.

Tenho um sentido inato do júbilo pela tragédia, que deriva de uma grande reverência ao sentimento grego da tragédia. A tragédia do Homem talvez seja a única coisa significativa a seu respeito.

Ele é um homem de constituição flexível, o que lhe propicia uma ilusão de altura. Seu rosto é comprido e estreito, jovem e sensível, seus olhos são sérios e muito escuros, como se as coisas aparecessem de modo sombrio através deles. Seu cabelo castanho já estava grisalho nas têmporas. Falava com sinceridade, mas com hesitação ao ser impelido a comentar sobre suas coisas particulares e teorias, que confessou não ter formulado. Não é um artista autoconsciente, mas muito mais um homem viril, que não consegue parar de escrever. No entanto, ele não é auto-revelador.

Quero escrever uma peça verdadeiramente realista. Esse termo é usado livremente no palco, onde a maioria das chamadas peças realistas tratam apenas das aparências das coisas, enquanto uma peça verdadeiramente realista trato do que pode ser chamado de a “alma dos personagens”. Trata daquilo que faz o caráter de uma pessoa ser só dela e não de outra. A dance of death (A dança da morte) de Strindberg é um exemplo desse realismo real. Nas duas últimas peças, a The foutain (A fonte) e aquela em que estou trabalhando agora, sinto que estou voltando à religião no teatro na medida em que é possível se voltar a ela, nos tempos modernos. A única maneira de podermos trazer a religião de volta, é através de uma exaltação da verdade, uma exultante aceitação da vida.

Ele hesitou, como se não quisesse revelar mais nada, e olhou para fora, pela janela. Então continuou.

Se há algo significativo na modernidade, é o fato de estarmos encarando a vida como ela é verdadeiramente. Isso diferencia essa época de qualquer outra. Não temos nenhuma religião para nos evadirmos da vida. Assim como todas as outras evasões, a religião está falindo. Estamos olhando a vida diretamente no olhos; e vemos que ela não contém nenhuma das  qualidades que sempre usamos para descrever as boas coisas que ela possui. Assim, precisamos encará-la como ela é, dentro de nós, fazer as coisas com alegria e sentir entusiasmo. É uma coisa difícil sentir-se exultante com a vida moderna.

 

Ficou em silêncio novamente. Abaixou-se para amarrar o cordão do sapato e Young Boswell ficou com medo de que ele não prosseguisse. Mas, então ele falou de teatro.

 O que eu estou querendo é um público que saia do teatro com um sentimento exultante, ao ver alguém no palco encarando a vida, lutando contra as eternas indefinições, não conquistando, mas talvez inevitavelmente sendo conquistado. A vida individual torna-se significativa  só pela luta,pela aceitação e defesa desse indivíduo, fazendo dele o que ele não é, como sempre no passado, tornando-se algo que não é ele mesmo. Na medida em que The fairy ape é um exemplo disso, seria o último gesto do personagem, quando ele se mata. Ele se torna ele mesmo, e nenhuma outra pessoa.

A completa realização do ego individual!

A luta do Homem para dominar a vida, de se afirmar e insistir que ela não tem significação fora dele mesmo; onde entra em conflito com a vida, o que ele faz a cada virada e sua tentativa de adaptar a vida às suas próprias necessidades, o que não consegue; é o que quero dizer quando digo que o Homem é um herói. Se um em dez mil consegue captar o que o autor dizer, se esse indivíduo consegue formular dentro de si mesmo sua identidade com a pessoa da peça ao mesmo tempo sentir a vibração emocional de ser aquela pessoa da peça; então o teatro voltará ao significado fundamental do drama, que contém algo do espírito religioso que o teatro grego tinha. E algo da exultação que está totalmente ausente da vida moderna.

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