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Grandes Entrevistas

 

Truman Capote I

 

Por David Scott, publicada na revista “Club” (S.Paulo), nº 5, out. 1981

 

Apresentação:

Truman Capote já foi acusado de ser famoso por ser famoso, de ser um gênio e de estar acabado. Seus inimigos afirmam que Capote não conseguirá terminar seu mais recente e já famoso romance, Preces atendidas. “Claro que acabarei”, diz Capote, mas seus editores não dizem o mesmo. Capote afirma estar envolvido com um novo estilo – relatos falantes -, uma tentativa de transformar jornalismo em arte. No entanto, quaisquer que sejam suas qualidades literárias, seu poder de persuasão está, mais do que nunca, altamente desenvolvido.

   Truman Capote está de vota. Desde que chegou em Nova Iorque há 35 anos, com apenas 17 anos, Capote conheceu a fama e a controvérsia e, mais recentemente, esteve à beira da ruína. Durante esse tempo, foi considerado brilhante, neurótico, ultrajante, triste, inovador e, até mesmo “acabado”.

   Apesar de tudo, Capote sobreviveu. Em seu apartamento no centro de Manhattan, de onde se tem ma deslumbrante vista do rio, Capote mostrou-se em boa forma, equilibrado e efervescente. Muito diferente daquele homem destruído e humilhado que, anos atrás, apareceu em cadeia nacional de televisão e que, posteriormente, foi internado num centro de reabilitação para toxicômanos. Depois disso, o famoso escritor de Café da manhã na loja Tiffany’s e A sangue frio viu-se em ruínas.

  Agora, no conforto de seu luxuoso porém aconchegante apartamento, rodeado por obras de arte da La Tour a Andy Warhol, por instantâneos pessoais do Japão e França (“os dois povos mais deliciosos nessa ordem!”). Capote estava sereno, bem-humorado, espirituoso e, ocasionalmente, irritado.

   Vestia-se com simplicidade, em calças e camisa triviais. Usava um boné de pintor, talvez para esconder seu ralo cabelo louro grisalho. Esta era a única coisa que ele escondia.

   O tempo todo, o escritor foi franco, direto, hábil nas respostas e mordaz.

  Não que Capote tenha começado a se comportar. Ele estava terrivelmente ansioso para falar sobre suas últimas escapadas e sobre seus novos feitos literários. Embora estivesse bem sintonizado mental e fisicamente, ainda exibia seu familiar estilo raivoso.

  Apareceu recentemente na televisão, desta vez para denunciar publicamente (e bastante emputecido) sua antiga confidente a princesa Lee Radziwill. Na mesma semana, detalhes de uma ação em que é processado por calúnia, movida pelo antigo rival Gore Vidal, foram publicadas nas revistas New York e New West. Capote sentia-se firme para agüentar qualquer coisa.

  “Por que devo me importar com o que um qualquer pensa a meu respeito?” Ele repetiu várias vezes, socando o ar, como se quisesse se livrar de possíveis aborrecimentos.

   Comparou-se a um espectro, sempre espiando por sobre o próprio ombro. E lembrou: “Não se esqueça, sou uma celebridade há 30 anos”.

   De fato, foi há apenas que Capote sacudiu Nova Iorque com seu livro Outras vozes, outros quartos. Tinha, então, 22 anos e, nos círculos literários, já era conhecido como o gênio do New Yorker, oriundo de Nova Orleans, de uma infância problemática.

   Capote continuou escrevendo contos e, em 1961 publicou Café da manhã  na loja Tiffany’s, que se tornaria um filme de extraordinário sucesso, estrelado pela novata Audrey Hepburn.

   Pouco produziu até 1967, quando alcançou sucesso comercial com A sangue frio, história de verdadeiro horror sobre um assassinato no meio-oeste americano. Este romance foi também elogiado pela crítica literária pela inovação ao misturar documentário e romance. Foi, também, filmado e Capote tornou-se famoso como cronista criminal. Apareceu em documentários sobre prisões e, mais tarde, entrevistou condenados à morte.

   No anos 1960, escreveu dois elogiados roteiros para o cinema (com Eleonor Park) – O visitante do Dia de Ação de Graças e Lembranças de Natal – ambos, produzidos para a TV, ambos estrelados por Geraldine Page e ambos agraciados com o prêmio Emmy. Capote atingira o pico.

   Mas a dúvida persiste: por que não temos visto novos trabalhos nos últimos anos? Principalmente o final do seu já tão famoso romance Preces atendidas ainda inédito. Extratos desse romance foram publicados na revista Esquire em 1975 e 76, abalando seus famosos amigos (de Radziwill até Gloria Vanderbilt), retratados em certos trechos do romance.

   Apesar de não falar muito sobre isso, Capote insiste em afirmar que Preces atendidas é uma cópia quase fiel da realidade. Se ele esta blefando, não há como saber: seu editor da Random House diz que se romance não será publicado brevemente.

  Mas prometedores eram os sinais daquilo que ele chamou “laboratório experimental” em jornalismo, “a mais elevada arte de todas as formas de arte”. Ele disse que estava trabalhando numa nova forma, “retratos falantes”, na qual combina todos os instrumentos à disposição, numa tentativa de transformar jornalismo em arte.

   As peças seguem um formato rotineiro de pergunta/reposta, mas revelam tanto do autor quanto do assunto, característica de qualquer estilo que pudesse ser denominado “chique radical” e demonstrasse intenções sérias.

  Capote estava também animado com um terceiro projeto de pot-pourri autobiográfico, onde revela detalhes sobre seu recente colapso nervoso e posterior tratamento, em 1976/78. Com boa vontade, Capote discutiu sobre sua doença decorrente de uma dependência de drogas e bebidas, e situada, por ele mesmo, no início de uma relação com outro homem, em 1974, quando diz ter começado Preces atendidas.

   Mas, apesar de si próprio, Capote sobreviveu, mais interessante do que nunca.

                                          ***

- Você passou por “boas” nos últimos anos, tanto física quanto mentalmente e, suponho, emocionalmente também. Porém, você parece ter conseguido sair do aperto.

 

Tom Wolfe estava me dizendo outro dia, “Truman, você é a prova de fogo”, e eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Não existe nada que alguém diga ou saiba que possa me prejudicar, por que tudo já foi dito e eu sobrevivi.

 

- Mas e quanto ao seu trabalho? Não sendo prejudicado por seus problemas, não o foi pela fama?

 

Não acho que “fama” tem algo a ver com qualquer coisa – toda vez que ligo a televisão, alguma celebridade está falando sobre como ele sofre, puta merda. Tenho sido uma celebridade por trinta anos. Tinha 22 quando me tornei famoso, mas escrevi na New Yorker por alguns anos antes disso e era razoavelmente bem conhecido.

 

- E nada disso prejudicou sua carreira como escritor?

 

Meu trabalho tem sido tremendamente diversificado, em todos os meios.

 

- Mas qual é a sua impressão do Capote escritor em confronto com, digamos, a figura literária rodeada pela sociedade?

 

Você está falando de ser famoso por ser famoso... por que você não diz isso? Sim, sou famoso por ser famoso. E daí?  Acho que este tipo de fama alimenta a si mesma. Desde meu primeiro conto na Life, quando tinha os meus 20 anos, tenho mostrado uma certa qualidade. Cocteau a tinha, J.D. Salinger tinha a ao contrário.

 

- Que qualidade é essa?

 

Não sou como qualquer um

 

-Mas e quanto ao efeito em sua carreira ou, pelo menos, à impressão que o público tem de você como um escritor versus a figura leitrária famosa?

 

Por devo me preocupar com o que qualquer um lá fora pensa? Certo, sou tratado com uma celebridade e todos na rua me chamam de Truman. Acho que sou uma espécie de extensão de seus sistemas nervosos, mas eu conheço meu trabalho e sei quem sou.

 

- O jogo da fama não o incomoda mesmo?

 

É apenas um lado meu. Os franceses chamam “monstros sagrados”.

 

- E o outro lado? Não temos visto muito de seu trabalho ultimamente e, com certeza, não há indícios da publicação, para breve, de seu tão esperado e difundido livro, Preces atendidas.

Bem, não tenho pressa com o livro, o qual, por sinal, está na outra sala, numa gaveta da escrivaninha. Toda minha vida, e minha carreira se move em círculos.

 

- Você poderia identificá-los?

 

A primeira fase começa quando vim para Nova Iorque aos 17 anos e vai até a publicação de Outras vozes, outros quartos e, logo a seguir, Café da manhã na Loja Tiffany’s. Depois eu não publiquei coisa alguma por quase 10 anos, até A sangue frio. Depois, hesitante, nada, até que comecei a trabalhar em Preces atendidas (1974). Agora estou a quase um terço deste ciclo, passando por meu trabalho atual, e quem sabe o que virá a seguir.

 

- O que você pode nos dizer sobre o livro, principalmente sobre a propaganda feita sobre ele e os extratos publicados na Esquire?

 

Bem, existe uma concepção bastante errônea sobre o livro, embora eu não possa culpar ninguém a não ser eu mesmo por isso, pois permiti a publicação de trechos fora de um contexto. Mas o livro não é sobre fama, de maneira alguma.

 

- Você pode esclarecer esta concepção errada e nos colocar na direção certa?

 

Foram publicados quatro capítulos na Esquire: Monstros intactos, Kate McCloud, Mojave, La cote basque os quais, eu acho, provocaram toda controvérsia. Acho que as pessoas simplesmente foram surpreendidas pela franqueza. Elas pensavam que eu fazia parte de seu circulo íntimo, aquelas sobre quem eu fiz comentários na cena do restaurante para ser mais objetivo.     

 

- Esta não é uma conclusão lógica, levando em consideração sua própria ascensão?

A verdade é que estas pessoas me interessavam e, sim, eu estava com elas para uma espécie de estudo de campo, mas eu nunca estive muito próximo delas. Como poderia estar? O nível intelectual delas não é muito alto!

 

- Sobre o que é o livro?

A explicação pra todo o livro vem logo no primeiro parágrafo, onde a personagem central P.B. Jones, diz: "Estive no centro da Terra e lá encontrei monstros destruídos e intactos".

- Você pode esclarecer?

É sobre a migração ao interior da Terra de uma pessoa frustrada, não muito moral, mas extremamente sensível e inteligente: uma versão adulta de um adulto contando a uma criança sobre como cavou o  caminho até a China. O assunto não é poder, nem pessoas ricas, nem fofocas escandalosas. É, na verdade, um romance criminal.

- O fato de você ter demorado par escrever o livro confirma a teoria sustentada por muitos círculos literários de que escritores americanos perdem o fôlego cedo? Olhe para outros artistas também, como seu amigo Andy Warhol. O que ele produziu recentemente?

Andy tem feito coisas muito interessantes, e ele tem feito experiências com sua revista Interview, mas não acho que seja absolutamente verdadeira aquela teoria. Norman Mailer, por exemplo, é, hoje, um escritor muito melhor. Não gostei de seus romances nunca. Quando estava trabalhando em A sangue frio, ele disse que me faltava imaginação criadora para escrever naquele estilo de documentário. Eu disse que era muito mais criativo do que escrever outo romance sangrento. Logo em seguida, ele começou a trabalhar em Exércitos da noite (romance documentário dos anos 1960).

- Então você se sente seguro acerca de seu próprio trabalho ainda não publicado?

Tenho absoluta confiança em mim mesmo como escritor. Talvez nem sempre como pessoa, mas considero-me um escritor avant-garde.

- Avant-garde em que sentido? Preces atendidas é avant-garde?

Bem, acho que sou muito mais avant-garde do que, digamos, William  Boroughs, embora o admire como um homem de coragem.  Acho que sou mais avant-garde do que Samuel Beckett. Acho que ambos estão um pouco ultrapassados. Mas, não, o romance não é avant-garde no sentido que eu entendo. Estou trabalhando em peças experimentais, uma tentativa de transformar jornalismo em arte, um tipo de coisa que estou fazendo em Interview.

- Como são essas peças ou contos?

Eu as chamo retratos falantes e não podem ser explicados facilmente. É uma síntese das várias técnicas que aprendi como escritor. A base é jornalismo puro, combinado com cenário ou enredo, dentro dos limites de um conto. Veja, depois de A sangue frio, senti que levava ao extremo um certo tipo de não-ficção. Sempre precisei me recarregar e isto só é feito por experiências. O problema é encontrar quem publique, e ninguém quer estas peças na sua forma atual. exceto Interview, que é meu laboratório. Ainda não tenho controle sobre esta forma, mas sinto-me como uma criança com um estojo de lápis de cores novo, estou muito excitado.

- Parece que sua vida, pelo menos a profissional, está muito cheia e você muito ocupado. Toda essa atividade éum esforço para preenchersua vida, para evitar que os problemas que você teve recentemente  se repitam?

Meu problema nunca foi preencher minha vida, mas esvaziá-la, despi-la e simplificá-la. Mais um problema de esvaziar um vaso do que enchê-lo.

- Então, este foi um dos fatores que levaram ao que você chamou de colapso?

Eu sofria do que se chama vício duplo ou cruzado, uma combinação de drogas e álcool. Não tinha problemas com cada um separadamente; isto não seria muito bom, mas não teria sido tão desastroso.

- Desastroso?

Sim, estive perto da morte

- O que você tomava?

Só tomava Valiums e Libriuns, sedativos leves, mas que são um perigo em potencial. Acho que os médicos que fornecem essas pílulas como se fossem balas não percebem o quanto tóxicas elas são principalmente para uma pessoa altamente energética como eu.

- Como você se recuperou?

Fiquei um mês no Instituto Smithers na cidade de Nova Iorque, que é muito bom. Porém, como eu precisasse de um tratamento mais intensivo, fui para a Fundação Hazeldem em Minnesota, por três meses. É um centro de reabiliatação para viciados em drogas químicas. Não tem atmosfera de um clube de campo, mas é um lugar isolado, com um tratamento rigoroso.

- Deve ter sido uma experiência difícil. Como foi?

Por um lado, não foi fácil. Mas por outro sim. Conhecia meus problemas e não tinha escolha. Ou parava ou então... tinha que aprender a controlar minha ansiedade e angústia sem o auxílio de remédios.

- O que você quer dizer com ou então... - que você quase morreu?

Bem, eu sabia apenas vagamente que estava perto da morte. Parecia estar de fora, sem poder fazer nada, assistindo a alguém representar um papel. Eu não sabia minhas falas ou como tudo acabaria.

- Bem, depois de tudo, parece que você se recuperou rapidamente.

Alguns dos meus médicos não podiam entender como alguém pudesse sobreviver a tais excessos. Passei por uma boa. Claro que nunca existe conclusão para esse tipo de viagem, não enquanto eles não levam você para o Frank E. Campbell's (agente funerário em Nova Iorque).

- Mas você se recuperou?

Acho que você nunca se recupera totalmente. Mais tarde, passa a  ser um problema de se recuperar o tempo todo, pelo resto da vida. Porque uma vez que você atravessa essa fronteira você não pode voltar, só pode controlar o problema. É uma doença progressiva, mesmo para abstêmios. Poderíamos tomar um copo de vinho agora e outro amanhã, e eu poderia me enganar por algumas semana, mas, em um mês mais ou menos, eu voltaria a confusão.

- Você não pode beber nada?

Não bebo há muito tempo; seco e limpo como dizemos nos círculos hospitalares. Minha mãe era uma alcoólatra, você sabe. Não sei se isso tem algo a ver com o meu problema. Acho que não.

 

- Você deve ter refletido bastante sobre o que o levou à dependência em drogas e ao seu consquente colapso

Sou uma pessoa naturalmente nervosa e estava sob grande pressão, com o livro; mas eu nunca tive muito problema com meu trabalho. Foram problemas emocionais mais extremos, que começaram a dominar.

- Você falou de uma relação com outro homem.

Sim. Na verdade, ele está em minha vida. A relação que tivemos acabou, mas retorna, às vezes, aos poucos. Como aquelas serpentes que se mexem mesmo depois de mortas. Ele tenta se comunicar comigo e até meus amigos que o vêem na rua me contam, pensando que eu estou interesado. Mas ele é a morte em pessoa, mal intencionado e explorador. Ele provocu o maior caso em mim, desde a minha infância.

- Então ele - a relação - foi responsável pela dependência?

Você controla seu proprio destino. A relação em si era, na realidade, um sintoma de um tipo de angústia delirante, uma personagem à procura de um autor. Acho que tudo isso estava prestes a explodir  desde a minha adolescência. Nós apenas escolhemos o objeto perfeito para provocar a pior destruição possível. Eu procurei encrenca e encontrei.

- Nada disso acontecera antes com você, quero dizer, este grau de reação emocional a uma relação?

Empreguei mal minha confiança algumas vezes, sim, deixei que as pessoas erradas se aproximassem de mim. Na verdade, só consigo me lembrar de duas vezes. As pessoas realmente têm depressões, mas as minhas nunca haviam me afetado fisicamente, não até esta data. E depois se foi como se nunca tivesse aparecido. Estar deprimido é como estar  perdido em alto-mar: você é salvo a tempo.

- Você tem uma compreensão extraordinária sobre tudo isso.

Convivi com isso por dois anos. Não me diverti. Eu sei o que significou para mim.

- Você vai registrar a experiência de alguma maneira?

Já escrevi quase todo o livro, o qual chamei, experimentalmente, Música para camaleões. É um pot-pourri de não-ficção.

- Você tem escrito bastantes esses dias, pelo menos parece. Quanto tempo você gasta nissso?

Bem, não sai da cidade neste verão, ou mesmo à noite. Faço ginástica e nado aqui perto, de manhã e à tarde, e escrevo das 20 às 2 horas, quase todas as noites.

- Você trabalha mesmo, nem parece uma celebridade.

Alguns são escritores profissionais, outros escrevem alguns livros. Gosto de me considerar um escritor profissional.

- Você daria um exemplo de escritor profissional?

Receio que Salinger acabará como escritor de alguns livros. Ele é um contista brilhante, mas sem muito poder de persistência, eu acho. Se você é um escritor profissional, acho que você permanece até o fim da corrida, vitória, lugar ou show.

- Você se considera um vencedor?

Sempre me considerei um vencedor, desde criança. Se não me considerasse assim, poderia ter me afundado. Tem alguma coisa dentro de mim, de teimoso e rude. Fico ligado, até o fim da corrida, como um vencedor, eu acho.

- Antes, quando eu disse que você parecia conhecer-se extraordinariamente, não me referia à doença em si, mas a sua perpectiva de vida em geral. Como você manteve esse nivel de cuca, principamente passando por tudo o que você passou desde os 17 anos.

Sempre acreditei ser um pouco mais normal do que a maioria, mas a maioria dos loucos pensa assim.

- Falando sério, o que você prevê para o seu futuro, ou melhor, como você gostaria que seu futuro fosse?

Gostaria de acordar um dia, olhar no espelho e poder dizer a mim mesmo: "Ah, finalmente uma pessoa verdadeiramente adulta". Eu me sinto assim cada vez mais. Sempre senti imaturidade  emocionalmente, em conflito com maturidade mentalmente. Sempre entendi as emoções dos outros - posso enumerar os problemas dos meus amigos -, mas dentro de mim sempre existiu uma criança, a espreita. Isto certamente influenciou minha arte, mantendo alto o teor de curiosidade. Ao contrário da personagem de Outras vozes, outros quartos, que, no final, abandona o menino que existe dentro dela, eu o conservei comigo.

- Como você identificará a maturidade verdadeira, quando encontrá-la?

Acho que a maturidade verdadeira é um sentimento de liberdade completa e uma habilidade em ser compreensivo e carinhoso, sem exigir nada em troca. Não acha?

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Próximo entrevistado: Graciliano Ramos

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