"Forçar, mixar e distender os limites do real e do imaginário sempre foi uma das minhas obsessões. Portanto, no que diz respeito ao contato direto com o real, posso dizer com segurança o jornalismo só me ajudou em meu trabalho literário. Quanto ao ofício, o trabalho de edição me fez fixar meu texto com uma intensidade ainda maior. Devo dizer que, nesse sentido, meu ofício anterior, de publicitário, foi determinante na arte de dizer tudo breve e criativamente – ainda que minha escrita barroca esteja muito distante do texto justo jornalístico. O jornalismo ajudou, mesmo, foi na edição... Na medida em que o primeiro objetivo do jornalista seja informar, relatar, não – e os 90% de jornalistas que escrevem pessimamente confirmam a tese. Já o escritor só tem compromisso com sua obra. Creio que o escritor só deva ser fiel a si mesmo. Quando escrevo, nunca penso em um leitor. Mas, quando assino um artigo, uma resenha, uma entrevista, uma reportagem, penso no leitor o tempo todo. A literatura, penso, além de uma conjunção de vocação e ofício, requer uma curiosidade ainda mais mórbida, letal e vampiresca que a do jornalista. (Muito) mal comparando: a literatura começa onde terminou Tim Lopes".
Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 13 de dezembro de 2006.
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