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Jornalismo
Zuenir Ventura

“O Hélcio Marins dizia para mim, quando eu ainda estava no arquivo, você tem que escrever para jornal que vai te fazer muito bem. Você vai se disciplinar. Comecei num momento em que havia um rigor muito grande na linguagem jornalística. Era uma reação a toda a subjetividade dos anos 1950, quando veio o lead, depois da guerra. Aprendi a trabalhar com as categorias fundamentais e indispensáveis ao texto jornalístico: o sujeito e o predicado, considerando que adjetivos e advérbios são complementares e dispensáveis. O que é fundamental é o sujeito e a ação... O jornalismo faz muito bem para quem trabalha com a palavra, exige um trabalho de seleção, de rigor na escolha do material. Você aprende a economizar a palavra. Da mesma forma que na vida, uma experiência de pobreza faz com que você valorize a riqueza que venha a ter, acontece também no jornalismo... O processo de limpeza da linguagem vem da literatura, sim. Escrever é cortar palavra. Sobretudo no Graciliano. Veja bem, a Semana de 22 também fez um trabalho de inclusão do insignificante, do cotidiano. O jornalismo, quando eu comecei, só falava dos grandes temas, do macro. Os cronistas, o Rubem, os mineiros, os capixabas, introduziram o insignificante, a amendoeira, o homem de frente para o mar. Toda uma percepção. A Semana trouxe também o humor. A matéria-prima tanto do jornalismo quanto da literatura é a mesma: a palavra. O cuidado é para essa economia, esse despojamento, não se transformar em penúria. Porque aí é um desastre... Acho que o jornalismo tem autonomia estética. É um perigo quando a literatura entra no jornalismo. Para o jornalismo, João do Rio foi mais importante que Machado de Assis. Quem é que fez entrevista? Foi João do Rio. Bilac esteve em Paris e nunca passou por sua cabeça entrevistar o Zola. Quem foi fazer entrevista de rua, quem subiu os morros, quem trouxe a matéria foi João do Rio, com suas matérias sobre religiões, drogas. Acho que o que é específico do jornalismo é o contato com a realidade, o corpo-a-corpo com o real. A partir dos anos 1980/1990, a gente tinha muito nítida a diferença entre jornalismo e literatura. Nas minhas aulas, dizia jornalismo é realidade, fala de um fato verificável. Literatura trabalha com a imaginação”.

Fonte: <www.pena de aluguel.com.br>  Cristiane H. Costa (15/12/2006)   

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