"Cada vez se me tem apresentado mais nítida a responsabilidade cívica dp escritor, que não pode ser alheio ao que interessa ao homem no mundo dos homens. E essa responsabilidade subentende uma opção. Uma opção que inevitavelmente nunca pode deixar de ser política. Mas o papel do escritor na sociedade deseja-se que seja conscientizador e contestatório, obstanddo à sacralização das pessoas e das fórmulas, o que, desde logo, recomenda que o sintamos bem livre para julgar, sem compromissos constrangedores. O artista (frase velha) não pode vestir uniforme. O protesto, todavia, deve estar atento um risco: por um lado, a gratuidade, por outro, o estímulo a que sacralização mude apenas de rosto e de objecto. Além disso, se olharmos a História, encontramos no artista umaespécie de tradição, por vezes romantizada, que o associa aos rebeldes, aos injuriados, aos desditosos, aos que as instituições marginalizaram. E essa tradição interrompe-se precisamente nas fases em que o artista perdeu agressividade, aceitando os benefícios de uma integração nos valores estabelecidos (sejam eles quais forem, mesmo aqueles que representam o seu combate) assim desmetindo a sua insubmissa condição".
Fonte: Encontros com Fernando Namora. Porto; Ed. Nova Crítica, 1979.
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