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Política
Jorge de Lima

"Desde que se dê à poesia a incumbência de puxar a sardinha para que lado for, ela deixa de ser poesia. No entanto, em todos os tempos, teve uma função social importantíssima, já que o poeta foi sempre o anunciador das grandes reformas universais. Hoje, mais do que nunca, precisamos de poesia. Precisamos dela como se precisa de cantigas para ajudar um trabalho pesado, de verdadeiras cantigas de eito, deste eito imenso que é o mundo atual, convulsionado pela maior guerra de que se tem notícia. Desconfie dos que saem à rua anunciando que vão fazer poesia nova, poesia burguesa, protestante, católica, social ou monarquista, porque não há poesia com tais rótulos. Não acredite nos especialistas em poesia. Esta dispensa estandartes. É como aquele bilhete de águia de que nos fala o filósofo: 'o vento passa, a águia o segue'. Um exemplo podemos tirar do que ocorre atualmente: fala-se muito hoje em dia em literatura proletária. Ora, apesar de os seus cultores viverem entre operários, observando-os como os cientistas observam suas cobaias, essa literatura não tem, salvo raras exceções, a naturalidade e a força da águia do filósofo. Outra coisa será quando o operário ou o intelectual proletarizado puderem escrever suas vidas, fixar no papel, em contos, romances, novelas, poemas, suas rebeldias triunfantes".

Fonte: SENNA, Homero. República das letras. 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.


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