"Nós tomamos partidos políticos por conta de nossa ética pessoal. Eu acredito fortemente que um escritor não deve se envolver em situações políticas, mas é inevitável. Escrever um romance é se identificar com pessoas. Não apenas o seu tipo de pessoa, mas com pessoas que são muito diferentes de você. Quando você começa a fazer isso, como eu fiz em Neve, você precisa compreender questões políticas islâmicas. Isso não significa que eu concorde com as situações políticas islâmicas apresentadas no livro. Meu dever ético não é julgar e criticar, mas me colocar na posição de alguém e tentar entender por que ele tem tanta raiva do Ocidente... Depois que meus problemas começaram, eu senti ainda mais essa identificação. Mas em 1979, quando Harold Pynter e Arthur Miller foram à Turquia – naquela época eu não era um escritor tão famoso, mas tinha alguns livros publicados –, eu servi de guia a eles. E era um período de forte repressão, mas eu acreditava na liberdade de expressão. No final, meu principal valor é a liberdade de expressão. Eu entendo qualquer escritor, de qualquer lugar no mundo, que sofra repressão... Não acredito em força política fora dos romances, mas, sabe, às vezes as pessoas me pedem para assinar algo, um abaixo-assinado, e eu preciso assinar. É inevitável, em países em que a democracia é limitada, não fazer parte disso. Tenho sorte, sou famoso, e acabo me envolvendo. Mas minhas motivações não são nunca políticas. Quero escrever bons romances. Eu escrevo pela beleza do romance. Ponto final. Mas também quero ser uma pessoa politicamente correta".
Fonte: O Globo, 01/01/2012 - André Sollitto
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