"Fui descobrindo, aos poucos, que, de alguma maneira, queria entrar na literatura, como um leitor mesmo. Mas, sem saber; eu estava procurando um caminho como escritor. Essa descoberta foi muito por acaso. Chegou um tempo em que pensei que deveria ler coisas da literatura brasileira que relfetissem um pouco sobre o ambiente que eu conheço bem, que é o ambiente operário. Fui operário têxtil também. Então, esse ambiente me interessava muito, até mesmo para eu compreender minha história. Aí foi um susto, porque percebi que a literatura brasileira nunca tinha se debruçado sobre esse mundo. O mundo rural é muito bem representado. O mndo urbano é muito bem representado na classe média, na classe média alta, no lumpemproletariado, que seriam os bandidos, a prostituição, etc. Mas esse pedacinho entre o lumpemproletariado e a classe média não tinha sido tocado. O que existiu foram alguns autores comunistas brasileiros que colocaram operários na literatura, mas como militantes políticos. Eles representavam apenas uma idéia, não eram personagens de carne e osso. Eu pensei que talvez pudesse escrever sobre isso, porque conheço esse mundo. Mas não me sentia capaz do ponto de vista técnico, nem mesmo de experiêcia de vida. Então foi nesse momento que pensei: 'quero me programar para escrever sobre esse ambiente'. Passei longos anos de minha vida lendo muito, me preparando do ponto de vista técnico e também de informações literárias e culturais, para chegar a ser, então, escritor"
Fonte: Um escritor na biblioteca: 2011. Curitiba: Biblioteca Pública do Paraná, 2013.
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