"Talvez haja algo de loucura nisso, mas acredito que (como Yeats) sou muitas pessoas. Quando estou escrevendo um poema, sinto que sou a pessoa que devia tê-lo escrito. Assumo com frequência esses disfarces; eu os abordo como faria um romancista. Às vezes me torno outra pessoa, e quando isso acontece, acredito - mesmo nos momentos em que não estou escrevendo o poema - que sou essa pessoa. Quando escrevi sobre a mulher do fazendeiro, em minha mente vivi no estado de Illinois; quando tive o filho ilegítimo, eu me vi amamentando-o e o devolvi em troca da vida. Qando entreguei meu amante à sua esposa , sofri mentalmente com isso, e percebi quão etérea e desnecessária havia sido. Quando fui o Cristo, senti como o Cristo. Meus braços doíam ,queria desesperadamente deprendê--los da cruz. Quando fui retirada da cruz e enterrada viva, busquei soluções; esperava que fossem soluções cristãs... Creio que de certo modo sentia que Cristo estava falando comigo e me dizendo para escrever a história... a história que Ele não havia escrito. Pensei comigo mesma: esta seria a morte mais horrível. A cruz a crucificação, nas quais acredito profundamente, tornram-se quase banais; havia uma morte mais humilde que Ele podia ter buscado, por amor. Nele o mais importante erq seu amor, não sua morte... Eu combato meu próprio impulso. Existe um núcleo em mim que crê, e ao mesmo tempo esse pequeno crítico dentro de mim não acredita em nada. Algumas pessoas acham que sou uma católica relapsa... Algumas vezes, quando enlouquecemos, a visão - não uso esse nome, realmente -, quando enlouquecenmos, são imagens tolas e fora de foco, enquanto a no caso de uma experiência mística, por assim dizer, tudo está em seu devido lugar. Nunca descrevi minhas experiências religiosas para pessoa alguma, quer fosse um psiquiatra, um amigo, um padre, ninguém. Guardei-as só para mim - acho isso tudo muito difícil, e não quero mais sobre esse assunto, por favor".
Fonte: Escritoras e a arte da escrita: entrevistas da Paris Review. R.Janeiro: Gryphus, 2001.