"Pelo menos um dos filmes que escrevi, Beat the Devil, foi tremendamente divertido. Trabalhei nele com John Huston, enquanto o filme estava sendo rodado no próprio local, na Itália. Às vezes, as cenas prestes a ser filmadas eram escritas no próprio set. Os atores ficavam inteiramente perplexos – e, não raro, até mesmo Huston parecia não saber o que estava acontecendo. As cenas, naturalmente, tinham de ser escritas observando uma seqüência, mas havia momentos estranhos em que eu tinha apenas na cabeça o esboço real do chamado enredo. Acaso não viu o filme? Oh!, deveria vê-lo, é uma pilhéria maravilhosa. Embora eu receie que o produtor não haja achado agradável. Que vão para o diabo! Sempre há uma reprise, vou vê-lo e divirto-me muito. Seriamente, porém, não creio que um escritor tenha muita chance de impor-se num filme, a menos que trabalhe no mais estreito entendimento com o diretor, ou seja ele próprio o diretor. Foi somente por intermédio do diretor que o cinema criou um único escritor que, trabalhando exclusivamente como argumentista, pode ser chamado um gênio do cinema. Refiro-me àquele tímido, pequeno e encantador camponês, Zavattini. Que senso visual! Oitenta porcento de todas as boas películas italianas foram feitas baseadas em scripts de Zavattini – todos os filmes de De Sica, por exemplo. De Sica é um homem encantador, muito bem dotado e profundamente sofisticado; não obstante, é ele, sobretudo, um megafone para Zavattini, seus filmes são absolutamente criações de Zavattini: cada nuança é claramente indicada nos scripts de Zavattini... A obra de Agee, diga-se de passagem, foi muito influenciada pelo cinema. Penso que a maioria dos escritores jovens aprenderam e tomaram muito emprestado ao lado estrutural da técnica cinematográfica. Eu o fiz."
Fonte: Cowley, Malcolm. Escritores em ação: as famosas entrevistas à Paris Review. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1968.
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