"Eu sempre escrevo assim que alguma coisa precisa ser expressa e isso nunca, jamais, é uma decisão minha. Eu nunca falo que hoje vou escrever, porque não acontece. Neste sentido, sempre afirmo e com toda a convicção que, rigorosamente falando, o texto não é meu. Isto para mim é tranqüilo, é de uma tranqüilidade solar, porque se ele fosse meu, eu já teria acabado O homem da mão seca, que é um romance que comecei com muita fúria. Então, a coisa pede para ser escrita e isto é uma feliz experiência, uma felicidade da qual tenho a maior saudade, porque eu escrevia, às vezes, quatro poemas em um só dia, quatro poemas bons, que depois publicava; achava-me uma fonte inesgotável. Agora, porém, estou tendo uma experiência: não sou dona nem dou ordens à poesia, sou serva dela e ela simplesmente se escondeu. No outro dia, escrevi uma poesia-zinha, fiquei de uma felicidade, mas foi uma colherzinha de chá... Eu escrevo e não sei como é que surge, não. Desejo expressar aquilo. Quando vou fazer um texto, a minha única preocupação é a fidelidade absoluta ao que estou sentindo. E uma coisa tão natural neste sentido, é uma natureza, é como um sonho, como um fenômeno corporal, psíquico, então eu não dou conta de ver, por exemplo, a elaboração do texto, porque parece que ele fica se fazendo, é ele que se faz”.
Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994.