"É como aquele tipo de processo que Cesare Palvese mencionava: quando você começa a escritura, a obsessão está num ponto muito elevado e a expressão dessa obsessão está num ponto muito baixo. Quase sempre a obsessão traz elementos de uma obsessão anterior, que ficaram incrustados. Isso aparece no que chamam de técnica. À medida que você vai escrevendo, a obsessão baixa e aumenta a proximidade em relação à expressão. Há um ponto em que elas se cruzam e aí, então, conseguem-se os melhores poemas. Mas há o momento em que a obsessão morre, ou se torna muito frágil e à vezes a expressão está muito forte, porque vem com formas e visões acumuladas em seu bojo, e pode chegar a ter vida própria. Mas se o motor da obsessão tiver morrido, pode-se cair em repetições. E aí só há uma coisa a ser feita: parar de escrever. Porque existe o risco de cair numa coisa técnica que pode ser boa, bem escrita, mas que não corresponde mais a uma necessidade expressiva. É muito difícil saber quando parar. Muitas vezes, a gente só percebe depois. Tem-se a anunciação da poesia, mas ela não chega. Escreve-se uma fruta demasiado madura, passada, que não serve".
Fonte: Nossa América, São Paulo, no 3, jul./ago. 1990.
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