"Acredito que os escritores devem escrever o que lhes dita a imaginação e não viver em incansáveis viagens pelo mundo, saboreando aventuras intensamente romanticas que lhe fornecerão um farto material. Bom, pelo menos no meu caso, na minha idade... Bom, tudo isso (descrição detalhada de lugares e coisas) diz respeito a palavras, à precisão, das palavras, à sua justeza, como dizia maravilhosamente bem Flaubert. Na verdade, tento não fazer grades descrições. Perguntam-me sobre inspiração. Vivo no Canadá e uma das grandes preocupações daqui é o tempo, sempre o tempo. A temperatura é diferente a cada dia. Talvez seja parecido com o Brasil em determinados dias. Aqui nossa preocupação é se vai cair uma tempestade, se ficará um dia muito quente, se vai nevar. O interesse se justifica, pois o clima pode ser perigoso, pode até provocar a morte. Isso modifica constantemente o ambiente, o que serve como inspiração para diversas histórias. É diferente, por exemplo, do Caribe, onde sempre é quente, o sol brilha todos os dias e isso só lhe serve de inspiração para um único livro (risos). Aqui, a colocação das árvores muda radicalmente a cada estação. Nesse momento em que falamos, é outono por aqui e, pela janela, vejo as folhas verdes, amarelas e marrons caírem. É como se a árvores chorassem".
Fonte: O Estadp de São Paulo, 18/11/2001 - Ubiratan Brasil